Sobre as buscas ao jornal 24 horas e sobre a autorização judicial para violar o conteúdo dos computadores apreendidos, a propósito da divulgação da notícia sobre o envelope 9, gente muito mais competente e dotada já escreveu a protestar contra os vícios de toda a situação, desde o desvio do objectivo da investigação até ao atropelo de regras mínimas de respeito pelas fontes jornalísticas.
No fundo, a situação é muito clara: sendo incómodo, doloroso ou dífícil revelar quem fez asneira ao nível do poder judicial, por negligência, incompetência ou desleixo (o que vai dar quase tudo ao mesmo, pois estou a excluir o dolo da equação), investe-se em manobras de diversão (do público) e de intimidação (dos mensageiros, neste caso, os jornalistas).
Do lado dos que defendem que este é um abuso intolerável está muita gente sincera e coerente, mas também estão muitos adesivos de ocasião, porque agora convém.
Porque, tudo isto mudaria de figura se as situações fossem outras, assim como os protagonistas.
O que mais há, ao nível dos poderes (político, judicial e económico) é o desejo de controlar o fluxo de informação e de, com o pretexto de regras, impôr limitações à livre circulação da informação (o caso recente relativamente ao Google e à China é apenas, à macro-escala, o que acontece de forma disseminada por todo o lado).
Porque, como se percebeu, o 24 horas não inventou nem distorceu nada.
Transmitiu algo notoriamente de interesse público.
Não há qualquer abuso nem qualquer tipo de calúnia.
O que parece é existir como que uma espécie de delito de publicação ou divulgação de material incómodo.
Só que, como o selo tablóide parece diminuir-lhe os direitos e a eventual seriedade, parece fácil torná-lo o bode expiatório de erros alheios e de um triste período da nossa justiça bem simbolizada na patética figura do Procurador-Geral da República, escolhido politicamente a dedo para ser inócuo, mas acabando por ser tão inábil que até os seus criadores agora se sentem embaraçados com o seu desempenho.
Mas tudo isto não está longe de todos nós.
Por outras bandas, também os mensageiros, divulgadores de informação ou comentadores, também estão na mira dos que acham que, em vez de se investigar o erro ou aferir se existe algo de errado, se deve atacar quem divulga o erro ou inquire sobre se haverá fogo por baixo do fumo.
No fundo, no fundo, a informação nunca foi tão fácil de colocar a circular, mas também nunca sofreu tantos condicionamentos à possibilidade de isso acontecer sem constrangimentos vários, desde a sua subtil manipulação até à pura e simples tentativa de a bloquear, não esquecendo claro os esforços para desacreditar ou atingir os mensageiros.
AV1
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