Jorge Sampaio vai-se embora hoje e, porventura injustamente, deixará não muitas saudades, embora também só deixe meia dúzia de insatisfeitos e detractores convictos.
Confesso que não votei no homem, porque sabia que ele estava eleito à partida nas duas ocasiões, não me tendo abstido por ter muitas reticências quanto ao homem.
Afinal ele era dentro do PS do melhorzinho que se arranjava e, para os mais amnésicos, passou por belos torpedeamentos quando foi líder do seu partido, não tão ferozes como os que levou o Ferro Rodrigues, mas os tempos e os torpedeadores eram outros, mesmo se existia o mesmo medo que ele animasse um frentismo de esquerda.
Os mais esquecidos, já não se lembrarão que ele foi para a CML, porque à época ninguém queria avançar no PS e ajudá-lo nessa tarefa, assim como não são obrigados a lembrar-se que a preparação da sua candidatura, feita com alguns sectores que há pouco encontrámos perto de Alegre, à Presidência da República não terá sido propriamente acolhida com entusiasmo pelo guterrismo nascente, que contra ele tinha conspirado meia dúzia de aninhos antes.
Por isso Sampaio, até porque tinha de suceder a um Soares perfeitamente destrambelhado em final de mandato, até foi um candidato bem simpático em 95, ajudando a fechar o ciclo do cavaquismo e levando para Belém a esperança de uma postura de esquerda rigorosa e sensível às várias sensibilidades.
O problema é que parece que é sina dos Presidentes que sabem dispôr da possibilidade de dois mandatos, irem para Belém 5 anos a pensar nos segundos 5 e depois nestes embrulharem-se desnecessariamente em confusões escusadas, por causa de certos preconceitos originais.
Soares, que foi eleito pela esquerda, mas contra a boa vontade de grande parte dessa esquerda, levou 5 anos a presidir mansamente, para depois levar 5 a recordar-se que era da dita esquerda e a querer, à força, redimir-se de ter levado Cavaco ao colo para a sua primeira maioria absoluta, remexendo freneticamente na gaveta onde tinha enfiado o socialismo entre 76 e 78.
Com Sampaio o que se passou foi diferente, como já se verá.
AV1 (parte 1/3 da trilogia sampaísta)
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