O problema com Jorge Sampaio como presidente, tal como com muita gente que promete ou que cria a esperança que vai fazer muita coisa, que até nos vai fazer encaracolar os dedos dos pés e colocar a Terra a tremer, é que depois, no momento da concretização, são uma espécie de Nuno Gomes em ponto grande, sem a bandolete.
Os dez anos de Sampaio na presidência foram pouco caridosos para o país, em termos de balanço global. A culpa não foi dele é certo, mas também é verdade que ele falou muito, muito, foi mais palavroso do que eu em dia sim, mas só às últimas conseguiu ter algum tipo de influência efectiva no rumo que o país tomou desde 1999.
Vamos por partes:
Em primeiro lugar, e apesar das largas maioriais, Sampaio não é tido pela generalidade da classe política como uma espécie de pai da Nação, como acabou por ser Soares e acabará por ser Cavaco. A malta respeita-o, considera-o íntegro e tal, mas na verdade houve muitos que andaram com ele à escola e, secreta ou explicitamente se consideram melhores do que ele. Olhem o António Barreto, por exemplo, para não falar no Pulido Valente, que ácha o mesmo mas pelo menos sabe que não teria jeito para o cargo.
Por isso, muitos dos apelos de Sampaio, quer timidamente na era Guterres, quer um pouco mais afoitamente nos tempos do Durão, caíam por regra em saco roto. Os confrades ouviam-no, acenavam, batiam-lhe palmas, mas iam à sua vida fazer o mesmo.
Sampaio pecou durante muitos anos pela falta de firmeza e de clareza.
Guterres, depois do período que levou à Expo, fez asneirame em barda, sem que Sampaio fizesse mais do que meter o Vara na ordem.
O Durão ameaçou que fazia, fez pouco e mal, e o Sampaio a ver, ficando para a História pequena a frase "Há vida para além do orçamento" que, como sabemos não deu em nada.
Veio o Santana Lopes e ele ainda lhe deu mais uns mesitos para ajudar a enterrar mais o país, chegando mesmo a admitir que insinuassem que ele dissera e prometera uma coisa e depois que fizera outra.
E tudo isto porquê ?
Porque, para além da velha história do primeiro mandato com o olho no segundo, Sampaio sofreu de um enormíssimo complexo de esquerda.
Vindo ele de uma ala esquerda do PS, quis provar à saciedade que era o Presidente de todos os portugueses, incluindo os incompetentes que nos foram governando.
Não quis incomodar muito o PS, para que não o acusassem de desforras por maldades antigas feitas nas lutas internas dos socialistas.
Não incomodou muito o Durão, porque sabia que tinha deixado o outro ir atolando o país.
E ainda deixou o Santana fazer um álbum de retratos como Primeiro-Ministro, para que não se dissesse que não o empossava por questões meramente políticas de posicionamento esquerda/direita.
E assim se foram uns bons 6-7 anos de muito discurso, muita palavra bem dita e escrita, quantas vezes bem rebuscada, com muito boas intenções a falar da Educação, da Qualificação e Formação, da Cidadania e de tantas coisas que nós sabemos existirem, mas que por cá se praticam pouco.
Fosse o homem menos complexado com o exercício da autoridade - coisa típica de alguma esquerda herdeira dos anos 60, mas não de toda - e talvez isto tivesse andado mais direito.
Só que até 2000 andou ali a assegurar que tinha um plebiscito para o segundo mandato e quando, por fim, poderia entrar em aquecimento, o próprio Guterres se foi, e depois veio o outro que se foi num par de anos.
Por tudo isto, o durante de Jorge Sampaio está longe de ser memorável, não tanto pelos erros cometidos, mas mais pela ineficácia prática do seu discurso bem construído e pela constante hesitação em assumir aquilo que saberia ser melhor para o país, mesmo se pior para a sua imagem consensual.
Agora, vem o Cavaco que, como tentarei demonstrar no próximo texto (Sampaio - E Depois ?), sofre de um problema semelhante, só que simétrico do ponto de vista político. Cavaco tem imensos complexos de direita ou com a direita mais pura e dura. E, como também vai querer governar dois mandatos, vai ser tão consensual como Soares e Sampaio nos seus primeiros mandatos.
Resta saber se é disso que nós precisamos.
AV1
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