quinta-feira, junho 30, 2005

Gosto deste tipo, e pronto !

Saldanha Sanches é um dos pouquíssimos ex-esquerdistas que consigo admirar, estando no primeiro lugar de um pódio, onde só está mais o Pacheco Pereira, mas a certa distância.
S. Sanches é dos poucos que não perdeu a lucidez, soube ver onde e quando errou, que assume esses erros, mais com humor do que amargura e despeito, acrescendo ainda que não procurou depois encostar-se a nenhum partido para se promover e aceder às esferas do Poder, limitando-se a ter a influência da boa qualidade das suas opiniões.
Cada entrevista que dá é sempre merecedora de leitura e não é uma mera perda de tempo, enredada em lugares-comuns, como é habitual nos seus contemporâneos.
Na Visão desta semana temos mais uma dessas entrevistas reter e da qual só vou extrair dois excertos da última parte (p. 58), por falta de tempo para transcrições e porque não está online (mas o retrato de Durão Barroso enquanto jovem é delicioso, assim como a desmistificação dos heroísmos anti-fascistas de muitos que passaram menos do que ele mas se arvoram em mártires da Ditadura).
O primeiro, mais longo, é sobre o erro de querermos subdividir ainda mais os nossos concelhos e o segundo sobre o que ele acha dos políticos da sua geração.

«O actual sistema autárquico está em crise ?
Está esgotado, está gasto. Temos mini-autarquias, com uma despesa imensa. É um desperdício absoluto. Não podemos ter centenas de presidentes de câmara, milhares de vereadores e muitos milhares de presidentes de junta pagos pelo Orçamento de Estado. Esse peso é excessivo. E há um problema de oferta e procura. Nós podemos arranjar um pequeno número de políticos decentes, que não nos envergonhem, e até lhes devemos pagar mais e melhor. Mas se temos milhares de decisores, temos o poder entregue a pessoas de má qualidade. Não há milhares e milhares de pessoas para serem vereadores neste país, só se tivéssemos um desemprego muito grande. Podemos ter menos autarcas, pode haver comissões de moradores que resolvam as coisas sem esperar pelo autarca. O poder não deve ser tão próximo das pessoas, isso gera promiscuidade. A Revolução Francesa foi feita para acabar com o déspota local. O déspota local é o pior de todos os déspotas, porque nos conhece.
.
E que balanço faz da sua geração, que chegou ao poder ?
Ah... É a geração do mais desaforado dos egoísmos. Depois do 25 de Abril achou que era dona do País.»

Sem comentários: