segunda-feira, junho 27, 2005

A vergonha gastou-se... já não há !

Continuo a achar que é difícil descer mais baixo do que o governo Santana/Portas, mas convenhamos que este senhor Campos e Cunha me começa a bulir seriamente com os nervos.
Depois do alarido com os erros, omissões e imprecisões do Orçamento de Bagão Félix e das correcções minuciosas do Constâncio de Serviço, chegou a vez de apresentar à AR o Orçamento Rectificativo para este ano.
Por Orçamento Rectificativo entende-se algo que Rectifica um outro algo (orçamento) que precisaria de ser Rectificado.
Supõe-se, pois, que é a vez do Certo substituir o Errado.
E o que acontece, senhoras e senhores, o rectificativo traz consigo aquilo a que eufemisticamente o Governo e o seu defensor oficioso Oliveira Martins diz serem imprecisões e não erros.
Confesso que já não tenho mais paciência para isto !
Vamos lá a ver...
Eu sei que as Contas do Estado são um artifício contabilístico pouco dado a uma boa relação com a realidade e cujos números, na maioria dos casos, só servem para arma de arremesso político.
Todos já percebemos que aquilo nunca é o que se diz que é.
Mas, pelo menos, o que se exige é que o total corresponda à soma das parcelas, coisa que desde os tempos da prova dos nove não é assim tão difícil de conseguir e que com as máquinas de calcular e os próprios computadores se torna incompreensível, a não ser por desleixo ou, como lapidarmente disse Ricardo Jorge Pinto do Expresso na RTPN, como sinal de uma lamentável incompetência.
Então não se consegue arranjar uma equipa de técnicos que reveja com atenção um documento deste tipo e com esta importância ?
E depois aparece o senhor professor doutor, ex-vice-governador do Banco de Portugal a explicar o inexplicável e a justificar o injustificável, com aquele ar de "já que não posso ter a minha pensão por inteiro, agora que me aturem com este ar pseudo-compenetrado".
É verdade que ele vem da Faculdade que já nos deu a tia Maria do Carmo Seabra como Ministra da Educação, mas pelo menos poderia existir um nível mínimo de vergonha na cara.
Não são erros, são imprecisões ?
Mas agora estamos já no domínio da destrinça etimológica ?
E quanto ao facto de não saberem exactamente a percentagem da Despesa no PIB ? Serão 49% ? Serão 50% ? Será mais ? Talvez sim ? Talvez não ?
E o tau-tau que a Comissão Europeia deu aos rearranjos contabilísticos para o novo cálculo do défice ?
Raios, não se arranjam já umas dezenas de pessoas capazes de governar esta desgraça de país com o mínimo dos mínimos de competência ?
O tacho já está assim tão gasto que só nos sai disto ?

Desde há uns tempos que achava que Portugal só muito dificilmente se conseguiria safar desta mediocridade. Agora começo a ter a certeza que não se vai safar..
Se um partido com maioria absoluta e mais de um milhão de eleitores, maiores e vacinados, só consegue recrutar disto, o que podemos esperar ?
A Ministra da Educação, diz que os Tribunais dos Açores não têm implicações nos assuntos da República !
O da Administração Interna ainda não sabe quantos foram os que estiveram em Carcavelos a passar a mão pelos bens alheios...
Um ex-ministro da Cultura e candidato à maior autarquia do país fala em cidadões em vídeos promocionais à custa do filho mais novo e da mulher fotogénica...

E não me digam que isto são casos isolados (isso é letra de uma canção dos Xutos), dados a aproveitamentos fáceis.
Infelizmente não... isto é mesmo já só o que nos resta.
Do trolha que não sabe alinhar dois tijolos ao Ministro que não sabe arranjar quem lhe verifique as contas, a distância é cada vez mais curta.
E em matéria de desculpas, o errar é humano vai-se tornando norma e não excepção.
Nestes tempos, acertar - e pior, querer acertar - é quase um pecado de soberba.
Paz à nossa alma, que a nação valente e imortal está muito doentinha.

Adenda: Façam-me lá sentido desta sucessão de notícias ou declarações (e eu não pesquisei muito): o Ministro nega o erro, mas admite alterar os números; Oliveira Martins desmente trapalhada e o governo nega existência de erros, mas reconhece incorrecções.
Eu sei que parece que o maior problema é num quadro-síntese explicativo mas, por ser isso mesmo, não deveria merecer um poucochinho de mais cuidado ? Será que os alunos do senhor Ministro, nas suas avaliações e trabalhos futuros, também poderão passar a dizer que não erraram, apenas foram incorrectos ou imprecisos ?

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