quinta-feira, julho 14, 2005

A inacção revolucionária

Não pratico desporto - excepção ao xadrez e a jogos de computador - vai para cerca de duas décadas.
E, verdade seja dita, não me arrependo muito disso.
Dizem que o desporto faz bem, mas tenho as minhas dúvidas.
Nem vou falar do ciclista que, recentemente, morreu por ter chocado com um poste de luz nos EUA. É demasiado trágico-cómico para me aproveitar de tal.
Mas já me posso aproveitar de desgraças mais próximas, de amigos meus mais dados à cultura física.
Um deles, na casa dos cinquenta curtos, ainda todo enxuto e armado em galã, gosta de ir fazer corrida para a Mata da Machada, depois de fazer o percurso até lá de bicicleta.
E convidou-me para o efeito, pois diz que se encontra lá muita malta e é um ambiente agradável e saudável.
Escusei-me sempre da forma menos ofensiva que me foi possível.
Há pouco mais de uma semana, telefonou-me para colocar a conversa em dia - já não o via há uns tempos - e me dizer que a operação às hérnias tinha corrido bem.
Hmmmm ? resmunguei eu, desconhecedor das causas de tal acontecimento.
Afinal, o meu saudável colega tinha ido esquiar na Páscoa para Andorra e, sem pré-aviso, tinha-se-lhe arrepanhado tudo e ficado sem quase se conseguir mexer.
De regresso á terra, descobre-se que tinha umas hérnias de esforço, aparentemente causadas por uma dose excessiva do dito esforço. E por certo que não é esforço do trabalho, porque ele - sorte a sua - faz pouco e trabalha ainda menos.
Ou seja, os anitos de bicicleta lixaram-lhe a coluna.
Podia acrescentar aqui mais uma outra historinha do género, que as tenho.
Mas não vou abusar.
Apenas vou voltar a pugnar pelo meu lema revolucionário em defesa da inacção.
Num tempo em que só vejo anúncios a Corpos Danone, a produtos light, a programas de emagrecimento e à glorificação do corpo belo, sinto que o meu apego à inacção desportiva é verdadeiramente revolucionário.
E sinto-me bem comigo mesmo.

(Para além de que suspeito, a acreditar nuns artigos que surgem no Jornal da Moita de um grande desportista e opinador político do concelho, que o exercício físico também diminui algumas faculdades que para mim são muito estimadas e que residem num órgão que fica atrás dos olhos, para quem sobe do pescoço...)

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