terça-feira, julho 05, 2005

O Spin autárquico



Em política, convencionou-se chamar nos últimos anos spin à técnica que consiste em retorcer de tal forma a realidade, em especial quando ela é desagradável a determinado(s) actor(es) políticos, por forma a apresentá-la sob uma faceta inversa, como se fosse algo agradável ou positivo.
A campanha de Bush nos EUA foi um exemplo extraordinário de spin em torno de temas como a desigualdade económica, as carências da segurança social ou mesmo e principalmente, a guerra no Iraque. Nesta guerra entre a realidade e a sua representação, os blogs surgiram principalmente no campo dos opositores (principalmente democratas) às técnicas de spin, mas apenas com moderado sucesso.
Na Inglaterra, Blair e a sua equipa também se tornaram muito hábeis neste tipo de embelezamento dos factos, tendo aprendido neste aspecto as notáveis lições da série televisiva Yes, Minister/Yes, Prime-Minister.
Em Portugal, a técnica ainda está nos começos e os seus agentes são muito inábeis na maior parte dos casos, sendo exemplar as tentativas do governo Santana/Portas para criar uma Central de Informação.
Mas voltemos à terra, à nossa.
Também por cá iremos assistir a um exercício de spin.
Nos documentos públicos para discussão da revisão do PDM temos palavras (muitas), mapas (alguns), gráficos (poucos) e números (os que não se puderam evitar).
O diagrama acima é o exemplo de uma produção gráfica destinada a, em aliança com o discurso que o envolve, fazer convencer os munícipes do concelho, que a Moita se está a constituir como uma centralidade incontornável no Arco Ribeirinho Sul da Área Metropolitana de Lisboa e que, em virtude das novas acessibilidades, se vai fazer sentir uma pressão forte para um irreprimível desenvolvimento urbano da região.
Irão esgrimir-se números para o provar.
Irão ser apresentados mapas para o demonstrar.
Irão ser gastas imensas palavras para o justificar e apresentar como algo benéfico para todos.
Com as limitações de tempo e meios que temos, iremos tentar aqui desmontar essa argumentação que é falaciosa e se baseia em princípios falaciosos, ou seja, que não passam de spin.
Em favor do novo PDM irão tentar apresentar-se "dados indesmentíveis" ou realidades evidentes que servirão para, ao serem tomados(as) por adquiridos, fundamentarem todo o resto.
Ora, na medida das nossas incapacidades, iremos tentar mostrar como as bases em que assenta este novo PDM são apenas um cenário, equivalente a outros possíveis e que, portanto, não é honesto apresentá-lo como alicerce justificativo para o modelo de desenvolvimento que se propõe para o concelho, o qual é e será apresentado como, à vez, natural e inevitável, mas positivo e vantajoso para todos.
E isso não é verdade.
Há alternativas.
Mais que não seja porque este cenário não é mais do que uma representação da realidade.
E, para além disso, alguns dos dados apresentados nesse mesmo cenário estão retorcidos, para nos darem a ilusão dessas desejáveis bondade e inevitabilidade.
Logo que pudermos, começaremos a concretizar.

AV1

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