... cheio de comendadores medalhados.
Nos últimos 30 anos, 3 Presidentes da República distribuíram cerca de 6500 medalhas, comendas e ordens.
É bem mais de 1 em cada 2 dias; dá uma média de quase 5 por semana.
Então o amigo Mário Soares desbaratou 2500, o que dá 2 em cada 3 dias e mesmo as 5 por semana de mandato.
O Jorge Sampaio vai a caminho das 2000 e nos últimos dias andou a presentear todo o incauto que passasse frente ao Palácio de Belém.
Logo eu que sou distraído e não fui para aqueles lados.
Depois temos comendadores de opereta, no verdadeiro sentido da palavra.
Há especialmente dois que nos últimos tempos me chamaram a atenção, pelo facto de agora terem um manto de respeitabildiade que tapa de forma pouco ingénua as dúvidas que polvilham o seu passado e o seu sucesso.
Um deles, Nabeiro de seu nome, crismado como santo padroeiro de Campo Maior, há um quarto de século foi amealhando fortuna de forma pouco adequada à legalidade, que na época até era bem larga. Nos últimos meses, apareceu sorridente nos outdoors da campanha de Soares, distinção a que não deve ter sido estranho algum milagre depositado nos respectivos fundos, assim como velhas cumplicidades nos anos oitenta. Hoje, no bemfeitor bonacheirão, aparente filantropo local, ninguém reconhece aquele que precisou de fugir para Espanha para não ser apanhado por crimes económicos numa altura em que esse tipo de crime quase não existia na lei nacional.
Outro do género, de passado igualmente "aventureiro", embora pelas Áfricas meridionais, responde pelo nome de Berardo e das dúvidas sobre a natureza da criação e funcionamento inicial da sua Fundação já ninguém se lembra. Agora, de boina de través, aparece como grande connoisseur de arte, arte essa onde investiu muito do dinheiro ganho como ele saberá. Nos últimos meses, fez transparecer a ideia que iria doar a sua colecção ao país, com escassas contrapartidas. Políticos de ocasião, ministro(a)s de deslumbre fácil e argúcia curta, deixaram-se cair no laço. Agora percebe-se que ele quer o justo dinheirinho pela colecção e assim recuperar, bem limpinho, todo o dinheiro investido em perto de duas décadas. E se o Estado português não for nisso, vai passar por desnaturado e desinteressado pelas Artes, pois a campanha desenvolvida na comunicação social foi hábil nas suas subtilezas.
De certo modo, Nabeiro e Berardo merecem as comendas que receberam pois representam o sucesso em larga escala, do chico-espertismo nacional, desde o gajo que cobra 60 euros por um arranjo inexistente num electrodoméstico ao empreiteiro que poupa no material de construção para amealhar mais uns cobres.
Eles foram chicos-espertos em grande, num país de chicos-espertos de pequeno e médio porte, alguns dos quais igualmente medalhados.
Aliás, a única garantia que eu tenho de não ser um deles é não ter estado perto, sequer, de ganhar uma comenda.
AV1
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