quarta-feira, abril 05, 2006

Baratex !

O nosso Governo quer transportar-nos directamente de finais do século XIX em matéria de funcionamento do Estado para o início do século XXI, que é onde deveríamos estar quase a chegar daqui por uns meses.
Para isso, a chave milagrosa parece ter sido achada na net.
Agora querem tudo pela net, desde as declarações do IRS à marcação de consultas médicas, passando por concursos para professores e facturação de serviços variados.
Confesso que isto seria tudo muito giro se, na verdade, toda a gente tivesse internet em casa, em condições de utilização razoáveis a preços razoáveis, os serviços estivessem preparados para isso e as próprias pessoas tivessem capacidade para se organizar de forma virtual.
Vou dar dois exemplos de como estas medidas, sendo boas na ideia, esbarram com a realidade ou então são meros artifícios para fazer economias.
Vejamos:
Em matéria de consultas médicas, alguém acredita que boa parte dos utilizadores do SNS, pessoas idosas, de rendimentos nem sempre muito favoráveis e escolaridade não muito avançada, estão em condições de ter em casa equipamento informático minimamente actualizado, acesso à net rápido e/ou com baixos custos e níveis suficientes de infoliteracia para fazerem o que espera que façam ?
Acham mesmo ?
Só na Lululândia é que isso existe entre nós.
Só o custo da ligação ADSL ou por cabo é capaz de ser superior ao preço da medicação de uma semana !
Alguém está ver grande parte dos utentes do Posto Médico de Alhos Vedros de portátil nas unhas, a gozar da net wireless no Parque das Salinas a marcar consulta para o Dr. Sampaio ?
A vantagem de não ter de passar pelos humores de algumas das funcionárias do posto é atractivo forte, mas sinceramente, alguém acredita que isso seja possível de forma alargada ?
Só a brincar.
Querem poupar em pessoal administrativo ? Então, digam-no claramente.

Outra investida é no âmbito da facturação electrónica.
Há um par de semanas, foi a PT a lançar o isco, que coiso e tal era mais seguro, não se extraviavam as facturas (bom ponto, pois os bons carteiros estão pela hora da morte, excepção feita ao amigo Sanina, é claro), poupavam-se muitas árvores e assim éramos mais amigos do ambiente e aqui até parecia mel a escorrer do auricular.
Eu já antes escrevi sobre isso, mas repito: querem poupar árvores, usem papel reciclado.
Querem defender o Ambiente ? Usem parte dos lucros em acções concretas de reflorestação e prevenção de incêndios.
A verdade é que a facturação electrónica reduz custos com o papel e com a conta dos CTT e lança para os consumidores o custo da impressão dessas facturas, se forem necessárias para fins fiscais ou para algum contencioso.
Por isso, danem-se. Facturação electrónica, o tanas.

Preparem primeiro o país para o "choque informático". Criem centros de apoio aos cidadãos sem conhecimentos nessa área que ainda são muitos, tornem mais baratas as ligações por banda larga, alterem a mentalidade reinante nos serviços públicos e depois logo falamos nisso.

AV1

2 comentários:

Anónimo disse...

Então não acha que a implementação de call-centers e os incentivos ao one-stop-shopping acompanhados do benchmarking e do independent peer review poderão ajudar à definição do core business incentivando o outsourcing, tudo isto contribuindo enormemente para reforçar a proximidade aos cidadãos?

Anónimo disse...

Eu acho que sim, então se fizerem um merchandising atractivo, o target do business fica logo disponível para um franchising da ideia.
Para não falar na necessidade de um downsizing do Estado.