quinta-feira, abril 13, 2006

Crónica Internacional III

Ontem à noite chegou a ser ternurento, ver como Lobo Xavier e Jorge Coelho se irmanaram na defesa da Real Politik de Sócrates na recente visita a Angola, contra o activismo do Pacheco Pereira contra um regime que, mesmo terminada a guerra, continua a alimentar um pequeno grupo de privilegiados detentores do aparelho do Estado, enquanto a maioria da população sobrevive a custo.
Se lá estivessem representantes do PC e do Bloco, acho que o PPereira ficaria isolado na mesma.
Os argumentos não podiam ser mais interessante, entre o pragmático (LX) e o hipócrita (JC): Lobo Xavier defendendo a necessidade dos negócios para os empresários portugueses como argumento para silenciar qualquer referência a direitos humanos (também é válido para a China e Arábia Saudita e só não sei porque não é para Cuba e a Coreia), enquanto Jorge Coelho esgrimia que não se pode fazer ingerências na vida interna de outro país soberano e na sua forma de Governo (pois, pois, nós sabemos que é mesmo isso que se pratica... quando convém, nem sei porque andaram a julgar o Milosevic).
Isolado, Pacheco Pereira contrapunha que os princípios devem estar acima dos interesses económicos e que os Direitos Humanos não podem ser ignorados, assim como a corrupção não pode ser admitida como base de trabalho.
Ele não é ingénuo mas quase parecia.
A verdade é que em Portugal a reverência de Portugal para com Angola assume estranhas feições e uma quase inversão da relação normal entre antiga metrópole e colónia, graças a um estranhíssimo complexo de culpa que mesmo os que eram contra a Guerra Colonial ou não viveram nesse tempo interiorizaram, misturado com a ganância de eventuais negócios.
Dizem as estatísticas que as relações económicas entre Angola e Portugal no último quarto de século florescem com o PSD no Governo (o preferido do MPLA depois dos anos 70) e mirram com o PS (o apoio soarista ao Savimbi ainda se paga).
Por isso, Sócrates quis ir mostrar-se tão cordato como qualquer dirigente laranja e lá foi dar uma voltinha com - de acordo com o folclore - 30% do PIB nacional.
Enfim, uma coisa algo triste e caricata, quase tão triste e caricata como ele a passear por Luanda com um corpo de seguranças maior do que o do Papa se visitasse o Irão.
Mas as coisas são o que são.
O dinheiro ainda é o que faz o mundo rodar (embora o sexo também dê uma ajudinha).

AV1

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