Há bastante tempo que tento adaptar a realidade política do poder moiteiro ao enredo essencial de uma das minhas séries de BD favoritas, ou não fosse da autoria do grande René Goscinny, a do vizir Iznogoud, que quer ser califa no lugar do Califa Haroun (e logo de Bagdad) e para isso tenta tudo com a ajuda do seu fiel e algo limitado ajudante Wa'at Alahf.
As três figuras principais são fáceis de achar, mas a bem do rigor, existem coisas que faltam e outras que ultrapassam a realidade.
Em primeiro lugar, a relação entre o Califa e o Vizir, por cá é muito diferente.
O Vizir quer ser Califa, mas o Califa sabe e já anunciou que deixará o lugar, o que torna desnecessárias as maquinações do nosso Iznogoud para lhe apanhar o lugar, bastando esperar e olhar por cima do ombro, como já explicarei.
Para além disso, o ajudante do Vizir não é assim tão pateta como o da série, para além de que tem diversos outros auxiliares, tipo ajudantes do ajudante do Vizir.
Não sendo ainda de esquecer que para além do Vizir principal, há outros vizires secundários que, em cascata, gostariam de serem eles o Vizir em vez do Vizir, pois acham que tem currículo curto e ascensão muito acelerada.
Ou seja, nesta versão doméstica, Iznogoud só é mau da fita a um tempo, pois também é algo vítima, não só das circunstâncias e do desacerto das suas congeminações, como das tímidas tentativas dos outros vizires para o tramarem junto do Califa e do povo de Bagdad.
No meio disto tudo, ainda há um grande eunuco que o não é no sentido literal (não se vá já alguém ofender e perder o resto da historinha), a não ser pela postura de guardião implacável do templo. E uma troupe de chatos que andam à cata de tudo e mais alguma coisa, chateando Califa, Vizir, ajudante do Vizir, ajudantes do ajudante do Vizir, vizires e o dito Eunuco que não o é.
Uma confusão.
Como escrevi, a realidade é sempre melhor, mais rica e quase mais divertida do que a ficção, mesmo a de Goscinny (e Tabary).
AV1
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