sexta-feira, abril 22, 2005
Do Subdesenvolvimento como Estratégia II
Já lá para trás aqui se escreveu sobre este tema, ou seja, sobre a possibilidade do subdesenvolvimento do nosso concelho não ser completamente inocente.É aquilo que os ingleses chamam um long-shot, o que quer dizer que é uma hipótese esticadinha até ao máximo da razoabilidade, um tiro no escuro da lógica, mas confesso que nem sempre me parece uma coisa assim tão disparatada por estes lados, sempre originais.
Relembremos que o concelho da Moita é o que tem índices mais baixos de investimento per capita na zona do país que já de si é a que tem o menor destes valores a nível nacional.
Cumulativamente, é o concelho da Península de Setúbal com menor valor de receita fiscal o que, em situações normais, indica o menor nível de rendimentos, em particular quando o indicador é o IRS (já abordámos isto em outro post, que depois procuraremos para linkar aqui, por enquanto têm aqui os dados dos fundos municipais para 2005) .
A combinação destes dois indicadores significa que somos os que ganhamos menos e aqueles em que menos é investido.
Ou seja, estamos no ciclo vicioso da pobreza que gera pobreza.
Estamos mal, o investimento é escasso, continuamos mal.
O que nos conduz à ideia peregrina de que a proletarização e suburbanização do concelho da Moita e em especial das freguesias de Alhos Vedros, Baixa da Banheira e Vale da Amoreira (embora aqui de forma um pouco diferente) não terá sido de todo desagradável para o poder político instalado na Moita, crente na permanência de uma fidelidade eleitoral "de classe" (veja-se o que José Luís Judas, pelo PS, tentou fazer em Cascais).
A permanência de uma estrutura industrial baseada em baixos salários, de baixo valor acrescentado, o pouco interesse ou eficácia na captação de investimentos de outro tipo, a urbanização preferencialmente em quantidade, para não falar de outros aspectos, parece-nos uma estratégia (in?)consciente para manter uma estrutura social favorável a um determinado sentido de voto, de protesto, que procura cativar ou fidelizar o descontentamento e a desconfiança para com o Poder Central, apresentado como responsável pela crise permanente - só sacudida fugaz e precariamente em finais de 70 e nos anos 80.
Contudo, se a curto prazo isto parece ser algo minimamente "racional" (mesmo se disparatado), a médio-longo tem custos sociais e económicos enormes, para além de que a erosão do sentido de voto é irremediável, mesmo se mais lenta do que em outras paragens.
Ou seja, a permanência no poder faz-se por via da manutenção de um equilíbrio social precário e de um subdesenvolvimento crónico, em que a autarquia se desresponsabiliza pelos sucessivos insucessos, procurando apoiar-se numa constante vitimização e auto-desculpabilização.
Ou isso, ou então é apenas incapacidade política e técnica (ia escrever "incompetência" mas depois ainda alguém se aborrecia).
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