Diário de Lisboa, 25 de Abril de 1980
25 de Abril de 1974 - A Memória (Parte II)
Os momentos preferenciais para a reconstrução da memória colectiva são as comemorações desses acontecimentos simbólicos, fazendo-se esse esforço sentir desde os primeiros tempos, embora com o afastamento temporal essa acção sobre a memória possa ganhar maior eficácia.
É particularmente interessante analisar, por um lado, o ênfase colocado nos diferentes protagonistas dos acontecimentos e, por outro, a composição daqueles que vão aparecendo como analistas desses mesmos acontecimentos. Claro que tudo isto depende da própria evolução política, dos equilíbrios de poder que se vão construindo, dos percursos individuais de muitos dos actores envolvidos e, neste caso concreto, pelo que podemos chamar a “evolução da revolução”. Depende ainda dos meios onde se produzem e de onde se espalham, essas leituras do passado e esses esforços de reconstrução da memória. Mas, apesar desses matizes, podem individualizar-se já com alguma clareza as principais fases que se sucederam até agora.
É particularmente interessante analisar, por um lado, o ênfase colocado nos diferentes protagonistas dos acontecimentos e, por outro, a composição daqueles que vão aparecendo como analistas desses mesmos acontecimentos. Claro que tudo isto depende da própria evolução política, dos equilíbrios de poder que se vão construindo, dos percursos individuais de muitos dos actores envolvidos e, neste caso concreto, pelo que podemos chamar a “evolução da revolução”. Depende ainda dos meios onde se produzem e de onde se espalham, essas leituras do passado e esses esforços de reconstrução da memória. Mas, apesar desses matizes, podem individualizar-se já com alguma clareza as principais fases que se sucederam até agora.
1ª fase – O 25 de Abril como Revolução
Nos primeiros anos que se seguiram a 1974, a comemoração do 25 de Abril foi profundamente festiva e hegemonizada fortemente por aquilo que se consideram as forças políticas da “esquerda” nacional, apresentadas como directas herdeiras da oposição ao Estado Novo e, por isso mesmo, com um capital de legitimidade insuperável para apresentarem os acontecimentos de Abril de 1974 como “seus”. Existiria então uma forte combinação entre alguns protagonistas e o papel de analistas. Seriam alguns dos actores do que se passou a fornecerem as principais leituras dos acontecimentos. Longe de qualquer pretensão de objectividade, o que estava em causa era o estabelecimento de uma versão “pura” das intenções e acções revolucionárias do MFA, feita pelos próprios e em particular pelos que tinham alcançado a vitória inicial e, em seguida, se tinham institucionalizado como órgão de soberania no Conselho da Revolução. Só para exemplificar, no Diário de Lisboa de 25 de Abril de 1980, o destaque de primeira página é dado a figuras como Vasco Gonçalves, Maria de Lurdes Pintasilgo, Costa Neves, António Reis e Carlos Carvalhas. A Revolução é apresentada como militarista mas pacífica; como resultado da acção eficaz de uma vanguarda revolucionária, mas ao serviço das aspirações profundas das massas populares.
A imagem do soldado e da criança a colocar-lhe um cravo na arma capta a essência desta visão que se pretende, mais do que é, ingénua dos eventos.
(Continua...)
António da Costa
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