"Desmascaramento da vigarice Marxista"
Sobre a existência do dinheiro, Kroptotkine pensava o seguinte...
«Nos seus planos de reconstrução da Sociedade, os colectivistas cometem, na nossa opinião, um duplo erro.
Falando na abolição do regime capitalista, querem, contudo:, manter duas instituições que são a base deste regime: o governo representativo e o salariato.
No que respeita ao governo representativo, já muitas vezes falámos dele.
É-nos absolutamente incompreensível que homens inteligentes - e eles não faltam no partido colectivista - possam continuar a ser adeptos dos parlamentos nacionais ou municipais, depois de todas as lições que a história nos deu a esse respeito, seja em França, Inglaterra, Alemanha, Suiça ou nos Estados Unidos.
Como é possível que, enquanto por toda a parte vemos ruir o regime parlamentar e surgir a crítica dos próprios princípios do sistema - e já não, apenas, das suas aplicações -, homens inteligentes, chamando-se de socialistas-revolucionários, procurem manter este sistema já condenado à morte?
Sabe-se que o sistema foi elaborado pela burguesia para enfrentar a realeza e, simultâneamente, manter e aumentar a sua dominação sobre os trabalhadores.
É, por excelência, a forma do regime burguês.
Sabe-se que os burgueses, preconizando-o, nunca defenderam seriamente que um parlamento ou um conselho municipal represente a nação ou a cidade; os mais inteligentes dentre eles sabem que isso é impossível.
Ao apoiar o regime parlamentar a burguesia procurou simplesmente barrar o caminho à realeza, sem dar a liberdade ao povo.Por outro lado, verifica-se que à medida que o povo se toma consciente dos seus interesses e que a variedade destes se multiplica o sistema deixa de poder funcionar.
Apenas os democratas-socialistas e os colectivistas não perdem essa confiança e é isso que nós não compreendemos.
Se os nossos princípios anarquistas não lhes agradam, se eles acham que são impraticáveis, então deveriam pelo menos, parece-nos, tentar descobrir outro sistema de organização que corresponda a uma sociedade sem capitalistas nem proprietários.
Porém, o que é para nós incompreensível é aproveitar o sistema dos burgueses - sistema moribundo, sistema viciado por excelência - e preconizá-lo, com algumas ligeiras correcções cuja inutilidade já foi demonstrada (tais como o mandato imperativo ou o referendo), para uma sociedade que tenha feito a sua Revolução Social.
A menos que, sob o nome de Revolução Social, se preconize tudo menos a Revolução, isto é, se proponha qualquer pequena modificação do regime burguês actual.
O mesmo se passa com o salariato.
Com efeito, como é possível preconizar, sob qualquer forma que seja, a manutenção do salariato depois de proclamar a abolição da propriedade privada e a posse em comum dos instrumentos de trabalbo?
E, contudo, é exactamente isso que fazem os colectivistas quando nos propõem as senhas de trabalho.
Que os socialistas ingleses do início deste século [séc. XIX - N. do T.] tenham proposto as senhas de trabalho, compreende-se.
No seu sistema mutualista, Proudhon apenas queria tornar o capital menos ofensivo apesar da manutenção da propriedade privada que julgava necessária como garantia do indivíduo contra o Estado, embora detestasse a propriedade privada do fundo do coração.
Que os economistas mais ou menos burgueses também aceitem as senhas de trabalho, ainda se compreende.
Pouco lhes importa que o trabalhador seja pago em senhas de trabalho ou em moedas cunhadas com a efígie da República ou do Império. Eles querem salvar, no desastre que se avizinha, a propriedade individual das casas habitadas, do solo, das fábricas, ou, pelo menos, das casas habitadas e do capital necessário à produção fabril.
As senhas de trabalho serviriam muito bem para manter essa propriedade. O proprietário da casa aceitará de bom grado a senha de trabalho como preço da renda desde que essa senha possa vir a ser trocada por automóveis e jóias.
E enquanto as casas de habitação, os campos, as fábricas, pertencerem a burgueses, será necessário pagar-lhes de um modo qualquer para decidi-los a deixar que os outros trabalhem nos seus campos ou nas suas fábricas e habitem nas suas casas; será necessário assalariar o trabalhador, pagar o seu trabalho com ouro, com papel-moeda ou com senhas de trabalho que possam ser trocadas por toda a espécie de comodidades.
Mas, se se admite que as casas, os campos e as fábricas deixam de ser propriedade privada, que passam a pertencer à comuna ou à nação, como é possível propôr esta nova forma de salariato - a senha de trabalho?»
(Continua...)
Manuel Pedro
Sobre a existência do dinheiro, Kroptotkine pensava o seguinte...
«Nos seus planos de reconstrução da Sociedade, os colectivistas cometem, na nossa opinião, um duplo erro.
Falando na abolição do regime capitalista, querem, contudo:, manter duas instituições que são a base deste regime: o governo representativo e o salariato.
No que respeita ao governo representativo, já muitas vezes falámos dele.
É-nos absolutamente incompreensível que homens inteligentes - e eles não faltam no partido colectivista - possam continuar a ser adeptos dos parlamentos nacionais ou municipais, depois de todas as lições que a história nos deu a esse respeito, seja em França, Inglaterra, Alemanha, Suiça ou nos Estados Unidos.
Como é possível que, enquanto por toda a parte vemos ruir o regime parlamentar e surgir a crítica dos próprios princípios do sistema - e já não, apenas, das suas aplicações -, homens inteligentes, chamando-se de socialistas-revolucionários, procurem manter este sistema já condenado à morte?
Sabe-se que o sistema foi elaborado pela burguesia para enfrentar a realeza e, simultâneamente, manter e aumentar a sua dominação sobre os trabalhadores.
É, por excelência, a forma do regime burguês.
Sabe-se que os burgueses, preconizando-o, nunca defenderam seriamente que um parlamento ou um conselho municipal represente a nação ou a cidade; os mais inteligentes dentre eles sabem que isso é impossível.
Ao apoiar o regime parlamentar a burguesia procurou simplesmente barrar o caminho à realeza, sem dar a liberdade ao povo.Por outro lado, verifica-se que à medida que o povo se toma consciente dos seus interesses e que a variedade destes se multiplica o sistema deixa de poder funcionar.
Apenas os democratas-socialistas e os colectivistas não perdem essa confiança e é isso que nós não compreendemos.
Se os nossos princípios anarquistas não lhes agradam, se eles acham que são impraticáveis, então deveriam pelo menos, parece-nos, tentar descobrir outro sistema de organização que corresponda a uma sociedade sem capitalistas nem proprietários.
Porém, o que é para nós incompreensível é aproveitar o sistema dos burgueses - sistema moribundo, sistema viciado por excelência - e preconizá-lo, com algumas ligeiras correcções cuja inutilidade já foi demonstrada (tais como o mandato imperativo ou o referendo), para uma sociedade que tenha feito a sua Revolução Social.
A menos que, sob o nome de Revolução Social, se preconize tudo menos a Revolução, isto é, se proponha qualquer pequena modificação do regime burguês actual.
O mesmo se passa com o salariato.
Com efeito, como é possível preconizar, sob qualquer forma que seja, a manutenção do salariato depois de proclamar a abolição da propriedade privada e a posse em comum dos instrumentos de trabalbo?
E, contudo, é exactamente isso que fazem os colectivistas quando nos propõem as senhas de trabalho.
Que os socialistas ingleses do início deste século [séc. XIX - N. do T.] tenham proposto as senhas de trabalho, compreende-se.
No seu sistema mutualista, Proudhon apenas queria tornar o capital menos ofensivo apesar da manutenção da propriedade privada que julgava necessária como garantia do indivíduo contra o Estado, embora detestasse a propriedade privada do fundo do coração.
Que os economistas mais ou menos burgueses também aceitem as senhas de trabalho, ainda se compreende.
Pouco lhes importa que o trabalhador seja pago em senhas de trabalho ou em moedas cunhadas com a efígie da República ou do Império. Eles querem salvar, no desastre que se avizinha, a propriedade individual das casas habitadas, do solo, das fábricas, ou, pelo menos, das casas habitadas e do capital necessário à produção fabril.
As senhas de trabalho serviriam muito bem para manter essa propriedade. O proprietário da casa aceitará de bom grado a senha de trabalho como preço da renda desde que essa senha possa vir a ser trocada por automóveis e jóias.
E enquanto as casas de habitação, os campos, as fábricas, pertencerem a burgueses, será necessário pagar-lhes de um modo qualquer para decidi-los a deixar que os outros trabalhem nos seus campos ou nas suas fábricas e habitem nas suas casas; será necessário assalariar o trabalhador, pagar o seu trabalho com ouro, com papel-moeda ou com senhas de trabalho que possam ser trocadas por toda a espécie de comodidades.
Mas, se se admite que as casas, os campos e as fábricas deixam de ser propriedade privada, que passam a pertencer à comuna ou à nação, como é possível propôr esta nova forma de salariato - a senha de trabalho?»
(Continua...)
Manuel Pedro
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