sexta-feira, abril 22, 2005

Especial 25 de Abril - V



O 25 de Abril de 1974 - A Memória (Parte III)

2ª fase – O 25 de Abril como Indefinição
Com o passar do tempo, ganha força uma segunda leitura dos acontecimentos, em que ganha espaço uma segunda vaga de figuras, tanto como protagonistas como no papel de analistas (anos 80). O fim da primeira e a transição para esta segunda fase pode ser marcado pela vitória eleitoral da AD, que parece demonstrar que, afinal, poucos anos depois, a direita portuguesa tinha o seu espaço político e a sua nlegitimidade eleitoral. Ensaiam-se nesta fase as primeiras tentativas de revisão – sob o pretexto de uma necessidade de objectividade – dos acontecimentos e, em virtude dos novos jogos de poder, a recuperação de um outro leque de protagonistas da Revolução. Com a definitiva normalização da vida política e a “centralização” do espectro político em torno do PS e PSD, procuram-se estabelecer pela primeira vez as raízes reformistas, moderadas, do movimento revolucionário. A Revolução ainda o é, a Ditadura ainda o foi, mas começam a surgir os primeiros matizes num quadro que antes era muito contratado e dicotómico. O protagonismo de Spínola é recuperado e o papel de Melo Antunes é apresentado como essencial, enquanto a figura de Otelo – em resultado das suas acções posteriores – começa a ser contestada, a par da diabolização de Vasco Gonçalves. Os primeiros ensaios históricos sobre o 25 de Abril surgem, maioritariamente, de figuras ligadas ao espaço do PS (Medeiros Ferreira, António Reis, César de Oliveira, entre outros) e, mesmo se com muitas debilidades documentais ou de investigação inédita e bseando-se prioritariamente nas memórias individuais, nos depoimentos orais e na imprensa e documentos públicos oficiais, procuram encontrar um primeiro espaço de legitimidade para a História. Esta é uma fase intermédia, em que ainda sobrevive com algum vigor uma memória revolucionária dos protagonistas momentaneamente hegemónicos em 74/75, mas em que vão perdendo força no confronto com uma primeira vaga revisionista dessa mesma memória. É durante o final dos anos 80 e início da década de 90, que a Revolução se torna revolução.

(Continua...)

António da Costa

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