quarta-feira, junho 08, 2005

Fogos de vista

«A relação dos portugueses com a natureza deve estar profundamente marcada pelo facto de tê-la a arder.
É que nunca a queima pára. Por toda a parte há qualquer coisa que arde. O país inteiro é fogo de artifício e fogaréus de arraial. Fogueiras em plena rua e intermináveis incêndios de floresta.
O maior espectáculo de todos são os incêndios de floresta.
A cada Verão que passa, os políticos prometem fazer finalmente alguma coisa e, cada Verão, a coisa arde com violência acrescida. Anos atrás, era vê-los bradando que, graças às medidas tomadas, as estatísticas indicavam que, até Junho inclusive, e comparado com os mesmos meses do ano anterior, o número de incêndios tinha diminuído drasticamente. Ora, obrigado. Durante o mês de Junho inteiro tinha chovido a potes.»
(Gerrit Komrij, Um almoço de negócios em Sintra, Porto, 1999, p. 52)

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