domingo, julho 03, 2005

38760 caracteres de ideias ?

Conforme prometido, debrucei-me atentamente sobre uma questão que me atormentava há um par de semanas.
Podem dizer: Andavas desocupado, sem mais nada em que pensar...
Respondo eu: Não, não é verdade; entre outros assuntos prementes, tenho andado ocupado com um unheiro na mão esquerda, naquele dedo que temos mais comprido e por vezes usamos com mais frequência quando conduzimos ou passamos em frente à CMM. Por isso, foi preciso alguma gestão das horas disponíveis.
Mas e conclusões ?
Ora bem, ora bem...
Concluí, após cálculos aturados, que é impossível que o vídeo de MM Carrilho apresentasse 38760 caracteres de ideias e passo já a explicar porquê, sem me deter no facto de não ser possível contabilizar caracteres num vídeo em que eles não surgem ou de os caracteres não conseguirem conter ideias - são mais as ideias que se podem expressar com caracteres.
Mas isso são questões que não estão ao alcance de qualquer ex-ministro da Cultura, casado com uma celebridade.
Mas há mais...
Concluí ainda que Carrilho padece do problema que tem afectado os socialistas na última década (lembram-se do Guterres a gaguejar um cálculo há quase uma década atrás...) em matéria do raciocínio matemático ou do mero cálculo aritmético.
Senão vejamos:
Experimentem escrever um texto no Word e apliquem a ferramenta da contagem de caracteres: Vão reparar que a proporção de espaços ronda, em média os 15% do total de caracteres: ficamos assim apenas com 32946 dos 38760 caracteres originais.
Segue-se que, embora sendo caracteres e permitam imprimir ênfase a dadas ideias ou mesmo apresentar uma ou outra interrogação ou mesmo alguma hesitação (caso das reticências). a pontuação não poderá entrar nesta contabilização. E a dita pontuação representa, em regra, 5% dos caracteres propriamente ditos.
O que nos traz para um valor de apenas 31299 caracteres.
Mas não é tudo: existem palavras que, sendo formadas por caracterres, não têm a natural capacidade de conter ideias - caso das conjunções copulativas ("e" isto, "e" aquilo) ou mesmo de variadas preposições e contracções - as quais, para não castigar muito o candidato, vamos avaliar apenas em mais 5% dos caracteres.
O que nos traz perigosamente para um valor inferior a 30000 caracteres de ideias (apenas 29734) e nem sequer estamos a contar com as vezes em que, no vídeo, Bárbara faz perguntas de tipo redundante ao filho Dinis, assim como as vezes em que Dinis Maria repete abusivamente a palavra "papá", a qual, podendo representar uma ideia, não é por ser repetida 27 vezes que passa a representar 27 ideias diversas.
Portanto, temos um total que, com bondade, oscilará em torno dos 27500 caracteres.
O que está muito longe dos anunciados 38760.
Digamos que, numa escala imprecisão (nomenclatura socialista para "erro"), este é um desvio de cerca de 30% do total.
O que, mesmo comparativamente aos erros, digo, imprecisões, do Orçamento de Estado para 2005 (o original e o rectificativo) ou do Relatório Constâncio, se pode classificar, numa terminologia científica moderna, como uma imprecisão do caraças.
Para além de que acho difícil que em apenas 27.500 (ou mesmo 28.000 ou 29341) caracteres se consigam expressar e fundamentar convenientemente ideias válidas para a gestão de uma cidade como Lisboa.
Se atendermos a que a população de Lisboa, de acordo com o censo de 2001, rondava as 550000 pessoas, isso significa que Carrilho apresenta um ratio baixíssimo de 1 caracter de ideias por 20 habitantes.
O que é francamente mau.

No mínimo, esperar-se-ia 1 caracter por agregado ou família nuclear (3 a 4 pessoas), pois só assim poderíamos ter uma cobertura da cidade conveniente, em matéria de ideias.
Enfim, ficarei por aqui esperando que est meu subsídio para o estudo do discurso político contemporâneo, personalizado nas afirmações do candidato Carrilho, seja um humilde mais útil contributo para a construção de uma nova prática em matéria, quer de contabilização de caracteres de ideias, quer da sua relação com a população a que se dirigem.
E que isso seja pensado pelos próprios candidatos em acção no nosso próprio concelho.

Muito obrigado,

(som abafado de aplausos, vários leitores acenam em concordância, momento raro de comunhão entre comunicador e comunicados...)

AV1

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