quinta-feira, julho 07, 2005

Esperar para ler e crer ?

O nosso leitor Mário da Silva deixou-nos a indicação de ter ouvido que a CMM vai colocar online os materiais para discussão do PDM e que, portanto, vai esperar para se pronunciar.
Em primeiro lugar, essa disponibilização devia fazer-se de modo a estar tudo acessível no arranque do período de discussão, não quando já passou uma semana e a aparente contra-gosto (mesmo nos pontos de consulta só havia uma pasta por tema). Não me digam que um processo de preparação que se arrastou por anos a fio, não permitiria maior previdência num aspecto como a publicitação dos materiais preparados.
Em segundo lugar, quer-me parecer que as vozes discordantes quanto ao PDM vão ser relativamente reduzidas e, salvo meia dúzia de celerados como nós aqui, restritas ao pessoal das zonas rurais (em especial a Barra Cheia) que verá os seus intuitos de construção mais limitados, sem grande contrapartidas. Cheira-me, a avaliar pela hora que ouvi da gravação da sessão de ontem, a que muita gente se vai ficar por alguns reparos politicamente correctos para marcar posição e mais nada.
Em terceiro lugar, e só com base na documentação em papel que já consultei e pelo que ouvi da apresentação da filosofia subjacente a este PDM na sessão de AV (a gravação só me permitiu identificar uma ou duas vozes com clareza, não percebendo se as pessoas se identificavam antes de falar... o nosso repórter economizou cassete), percebe-se que a ideia é compactar a malha urbana do concelho, apresentando isso como uma vantagem em relação à sua actual fragmentação em núcelos algo dispersos

Ora é aqui que eu tenho uma discordância de fundo:
Eu não acho que a compactação da malha urbana do concelho seja a boa solução, em especial se isso passa pelo alargamento do perímetro urbano dos maiores núcleos existentes.
Acho que seria prioritário proceder à harmonização da malha urbana interna dos núcleos urbanos de Alhos Vedros e da Moita que, em algumas zonas, em especial de AV, são descontínuos e incoerentes. Portanto, haveria que, em primeiro lugar, organizar internamente cada núcleo urbano e em seguida partir para o estabelecimento da melhor relação entre eles.
E, na minha modesta opinião, em vez de compactar os espaços livres entre os núcleos da Moita, de Alhos Vedros, da Fonte da Prata, das Arroteias com mais casario de qualidade duvidosa e sem equipamentos de apoio suficientes (sempre prometidos e sempre adiados), deveria ser estudada uma articulação baseada em corredores ou manchas verdes que permitissem, a um tempo, reduzir a impermeabilização dos solos e potenciar a captação das águas pluviais para o subsolo, dinamizar uma relação mais estreita entre espaço urbano e Natureza e, por fim, permitir que cada núcleo urbano encontrasse a definição própria do seu espaço e identidade em vez de se passar a inserir num contínuo indiferenciado.
Ou seja, teríamos a possibilidade desses núcleos se organizarem e desenvolverem internamente, assumindo a sua própria identidade, em vez de se diluírem numa mancha de dormitório uniforme, à maneira da evolução recente de Setúbal ou mesmo do modelo do Cacém, de Odivelas ou da Amadora, com tudo o que isso acarretou de negativo para a qualidade de vida das populações (a menos que se considere que o aumento de superfícies comerciais é o indicador mais influente neste aspecto).
Não chega tornar a Caldeira da Moita o centro de convívio que irá atrair muitas e desvairadas gentes, do concelho e de fora dele (isso é surrealizar demais...); não chega ir separando progressivamente a Fonte da Prata do resto da freguesia de Alhos Vedros, acenando-lhe com a criação de uma freguesia própria virada para a Moita; não chega requalificar apenas a parte da frente ribeirinha do concelho que fica de fronte para a Marginal da Moita.
É necessário provar que a filosofia subjacente a este PDM é desenvolvier harmoniosamente TODO o concelho e não apenas reforçar a candidatura da Moita (localidade e sede de concelho) a um estatuto de CENTRALIDADE na Área Metropolitana de Lisboa.
E isso é o que, infelizmente, ninguém parece perceber, enquanto se ocupa em discutir a desanexação ou reclassificação deste ou daquele terreno, deslocando a disputa para os casos particulares e pontuais.
Isso é o objectivo de quem quer, cedendo magnanimamente em casos particulares que satisfazem alguns mais aflitos e estridentes, fazer passar o essencial do projecto, sem que o resto da malta perceba bem o grande quadro, pintado com as alegres cores da modernidade, da acessibilidade, da centralidade e de outras palavras populares no léxico técnico-político autárquico actual que rimam na perfeição com banalidade.

AV1

Adenda: Atenção ao novos textos inseridos no Fórum RPDM.

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