terça-feira, abril 18, 2006

Castelhanices e lusofonias

Como escrevi, lá passei por duas vezes pela Feira do Livro Espanhol, logo ali na entrada do Corte Inglés virada ao Bairro Azul.
A coisa não é imponente e mais não passa do que uma transferência - com uns acrescentos - do que normalmente há lá dentro, com o anúncio de 10% de desconto no preço de capa.
A oferta não é brutal, mas dá para comparar alguns aspectos dos respectivos mercados e políticas editoriais.
Como em outros países com ambições linguísticas "imperiais", na Espanha existem diversos mercados para o livro, sendo o das edições de maior qualidade - os de capa dura e sobrecapa, à moda dos hardback saxónicos - a preços próximos das nossas edições normais, só que as nossas são mais fraquinhas em matéria de encadernação. E depois existe um vasto mercado do chamado livro de bolsillo, em "capa mole" (softcover ou paperback), com preços entre os 5 e os 12 euros onde se edita de tudo um pouco, desde monumentais biografias que cá custam os olhos da cara aos romances de sucesso que, já tendo feito o seu impacto no mercado da edição mais cara, depois aparecem disponíveis para bolsas mais curtas ou para quem queira consumir maior quantidade e se veja obrigado a reduzir o preço unitário de cada compra, como cá o eu.
Como é isso possível ?
Só a dimensão do mercado espanhol não explica tudo.
A mentalidade também ajuda.

Assim como uma política cultural que consegue colocar na América Latina as edições espanholas em grandes quantidades, desde os autores clássicos (os Lopes de Vega, os Cervantes, os Lorcas e etcs) aos modernos para vários gostos (Javier Marías, Pérez-Reverte, Montálban, Lucia Etxeberria, Carmen Posadas, Rosa Montero e tanto mais), incluindo os autores sul e centro-americanos (Vargas Llosa, Cabrera Infante, Garcia Marquez, Borges, Neruda) tornando muitas vezes supérfluas as edições venezualenas, colombianas, paraguaias ou equatorianas desses autores.
Em ano de comemorações, existe uma edição do Don Quijote, de formato não muito grande, mas com capa dura e apresentaçãop gráfica irrepreensível, decalcada da edição "de aparato", a menos de 7 euros.
Tentem encontrar uns Lusíadas assim, que não seja uma edição escolar, com a lombada a ruir toda ao fim de duas ou três dobradelas.
Ao contrário do que se passa connosco e o mundo lusófono, ou melhor, com o Brasil, onde as edições portuguesas penetram pouco, em circuitos estreitos, e suportadas apenas em meia dúzia de autores.
A verdade é que a Espanha se impõe como pólo cultural e irradiador da sua língua para as suas antigas possessões, sem grandes cedências multiculturais na sua lógica.
Enquanto Portugal parece sempre envergonhado por aparecer e dar nas vistas.
Pequenez das mentalidades.
Muito bom pensamento, politicamente correcto e tolerante ?
Talvez, talvez...
Mas também uma rematada ausência de estratégia de defesa da cultura e da língua portuguesa.
Ninguém imagina que a variante argentina ou mexicana do castelhano se torne a norma internacional para quem comunica nesse espaço ou para ele.
Mas todos sabemos que a variante brasileira será o português do futuro, se não o é já do presente.
Peso dos números do número de falantes ?
Talvez, talvez, mas não só.
Muita inabilidade pelo meio, muita falta de visão e a habitual pobreza franciscana.

Dizia-me há poucos dias um amigo meu, que para intercâmbios culturais com o Brasil o dinheirinho anda mais que curto, mais raro que gasolina abaixo de 1 euro.
Contava-me ele que numa instituição pública se desenvolveu a ideia de ir "resgatar" de algum modo o espólio documental deixado pela Corte portuguesa no Brasil, em particular no Rio de Janeiro, quando por lá andou de 1807 a 1822.
Só que, dinheiro não há e, portanto, na base da boa vontade não há nda para ninguém, nem mesmo para trazer umas peças jeitosas para se fazer uma exposição ou mandar equipas para fazerem inventariações exaustivas dos materiais e publicação dos respectivos catálogos.
Com sorte alguns restos de trocos para uns microfilmes e está feito.
Pois, somos pobrezinhos.
Mas também ou muito burrinhos ou muito "multiculturais".
O que ganhamos com isso. ?
Certamente um lugar no Paraíso e nada mais.

Mateus Letrinha Fina

6 comentários:

AV disse...

A maior estupidez é a dos portugueses,lisboetas e parvos, "os empata fodas" que com a desculpa da língua portuguesa aqui falada ser "melhor" que a língua portuguesa falada no Brasil e tal...empatam o desenvolvimento do mundo lusófono, imaginem eles é são 200 milhões, a falar português, e são eles é que têm de adotar a nossa ortografia !
E é por isso que não se consegue pensar em termos lusófonos, porque há uma cambada de filhos da puta em portugal que não nos deixa concretizar a ideia de mercado cultural lusófono, especialmente a nível editorial !

AV2

AV disse...

Eu não sei se estou na tua onda...
Cá para mim também estou a empatar... é que eu não gosto de "anônimos", gosto mesmo é de "anónimos".

Mateus

AV disse...

Eu quero é publicar em Português e atingir o mercado dos que falam Português !
Se tiver de editar no Brasil, com a ortografia do Português do Brasil, então farei edições no Brasil.
Quero que estes portugueses com a sua mentalidade mesquinha, se fodam !

AV2

Anónimo disse...

Você não sabe, o que está perdendo...

Anônimo

Carlos (Brocas) disse...

Oh lá lá, o nosso amigo AV2 hoje está para amar....

AV disse...

Algo correu mal na manhã deste rapaz.
Mas vai lá, homem, publica, publica e depois mostra-nos, sem ser com um ano de atraso como fazem as editoras brasileiras que publicam BD (ou HQ) e nem sequer colocam a hipótese nos seus sites de se fazerem encomendas de Portugal.
Mas depois não te venhas armar em nacionalista anti-castelhano.

Mateus Letra Fina