quinta-feira, abril 20, 2006

Se não chover, vai fazer um belo dia !

Já aqui se falou por diversas vezes no fenómeno que agora é conhecido no mundo político por spin e que, de forma incorrecta, se poderia designar como desinformação, ou menos incorrectamente, por contra-informação.
Na verdade, o spin é algo relativamente diferente e passa por "colorir" determinada decisão, acontecimento ou declaração de forma a torná-lo(a) mais agradável, caso não tenha conseguido o impacto inicial desejado ou, em alternativa, corresponde a uma estratégia de minimização dos danos quando algo corre declaradamente mal.
Exemplos à escala local
: quando a coisa do PDM começou a dar bronca, em especial em matéria de REN, o estratagema local foi atirar as culpas para a lei e o Poder Central, como se não fossem as autarquias a desenhar a RENe não tivesse sido a CMM a colocá-la onde stava no projecto de revisão do PDM. Este foi um exemplo claro de minimização dos danos de algo que tinha corrido mal; algo parecido foi feito com a aposentação (oculatada na campanha eleitoral) do candidato a (e actual) Presidente.
Agora um exemplo mais actual, do outro tipo, ou seja, de tentativa de dar um certo "colorido" a uma decisão que não teve o impacto eventualmente desejado e até poderá suscitar alguns protestos: o caso da autorização para implantação de mais duas superfícies comerciais (Modelo e Plus) entre os núcleos urbanos de Alhos Vedros e da Baixa da Banheira, onde já existia uma (Lidl), sendo que ainda há pouco foi criado um outro Plus para as extremas nascentes da freguesia de Alhos Vedros, perto de um outro Lidl e um Intermarché, todos a menos de 1 km uns dos outros. Para não falar das tradicionais Coop e do Modelo do Carvalhinho, um pouco mais além.
Num primeiro momento, a iniciativa foi apresentada como vantajosa pelas contrapartidas oferecidas pela implementação, leia-se, alargamento da estrada entre AV e a BB. Parece que, afinal, as contrapartidas não serão assim tão gritantes e até existem contrapartidas às contrapartidas, cujo valor se diz que é tanto, mas quem está de fora não tem elementos para saber ao certo. Para além de que lá apareceu a crítica á implementação de meras unidades comerciais e de distribuição e não de produção.
Então, veio a segunda vaga de informação, já com carga de spin: os empreendimentos vão gerar empregos nas freguesias e isso é bom; preparou-se uma matéria e mandou-se para a imprensa que, claro, publicou sem grande análise crítica.
Só que aqui também existe um reverso, o qual é o facto de mais duas superfícies comerciais virem agravar a sangria de clientes dos estabelecimentos comerciais tradicionais dos centros das vilas (gerando desemprego e eventuais falências) e, em certa medida, virem contribuir para o agravamento da crise já existente nesse sector e, acrescento eu, ajudarem a desertificar esses mesmos centros.
Então surge a terceira fase da informação, e segunda carregada de spin, que se demora a explicar como as novas superfícies não irão concorrer com o comércio tradicional mas com as outras grandes superfícies já existentes, o Lidl e o Feira Nova, nomeadamente. Esta argumentação é desenvolvida num texto do Banheirense, assinado pelo João Figueiredo e tem ficado sem a réplica devida.
Porquê ?
Porque, obviamente, por muito bem pensado que esteja o que lá está escrito, a realidade é outra e todos o sabemos.
O Modelo trará uma Modalfa e uma Worten acopladas. Isso não terá impacto no comércio local ? Brincamos, não ?
O Plus só vai tirar clientes ao Lidl ?
Pois, mas olhem que os talhos do Plus não são maus de todo.
E já agora, quem produz este tipo de visão colorida das coisas, será que frequenta essas superfícies e olha bem quem lá vai ?
Eu vou ao Lidl porque gosto das verduras, da fruta e de alguns queijos (fora computadores portáteis como o meu) e vejo bem quem lá anda, de onde veio (quantas vezes a pé) e onde costumava fazer compras.
E quando abrir o Modelo, então, com o amigo Belmiro a bombar em cheio, veremos se é o Feira Nova só a sofrer. O Feira Nova sofreu e muito por outras razões e bem se vê durante a semana como está durante boas horas quase às moscas, o que inclui as lojas que restam pelos corredores.
Esclareçamos uma coisinha: do ponto de vista dos consumidores este aumento da oferta é bom e até acho que o Modelo será vantajoso, em termos globais.
Só não acho é que tenhamos de retorcer a realidade, só para ela parecer toda bela e boa.
Claro que colocar malta de matriz marxista a defender a economia de mercado e a concorrência seria algo estranho e mesmo caricato.
Por isso, tentam-se dar outras voltas, com a criação de emprego, a concorrência às outras superfícies e tentam-se afastar os danos óbvios nos mexilhões.
Mas é tudo spin, meus amigos, é tudo spin.

Aristodeu Vendido (analista de comércio local do AVP, com a publicidade na imprensa ao filme Thank You for Smoking, coisa que aqui não se diz, mas tudo bem. Se ampliarem a imagem, percebem logo a relação com o post.)

5 comentários:

Carlos (Brocas) disse...

E assim caminhamos gradualmente para uma vida esplendorosa num Concelho à beira Tejo.....

Zelupi disse...

E que tal mais um Pingo Doce, na nova Fonte da Prata?

AV disse...

É já a seguir...

Aristodeu

Ponto Verde disse...

Pelo menos no Seixal está desvendada a filosofia pelo próprio Presidende Alfredo Monteiro, explicação:

Autorizam a instalação de várias mega superfícies ... para fomentar a concorrência entre si e assim lucrar ... O POVO !!!

AV disse...

Por muitos defeitos que tivessem os tipos antigos, estes novos autarcas da CDU continuam a provar á saciedade o que eu penso do seu sistema, a que já se chamou no AVP o comunalismo, híbrido enxertado de comunismo e capitalismo.
Tipo China a produzir para as lojas dos 300.

Aristodeu