quarta-feira, abril 06, 2005

Crítica ao tempo de antena anterior

João Titta Maurício mandou-nos um press-release da moção que subscreve ao próximo Congresso do CDS-PP. Como já afirmámos em post anterior não é, nem será, nossa prática, fazer de mensageiro de documentos partidários. No entanto, por diversas razões, publicámos o que nos chegou, tentando manter as formatações originais (e corrigindo esta ou aquela gralha do costume, mesmo se algumas inaceitáveis num documento "oficial" deste tipo). Fizemo-lo porque:

a) JTM é um dos nossos mais antigos leitores e, apesar das disputas e divergências, tem o mérito de encabeçar uma visão alternativa para um partido de dimensão nacional.
b) A moção parece ter nascido em grande parte na Baixa da Banheira, que foi parte integrante do antigo concelho de Alhos Vedros e pertence ao actual concelho da Moita, o que é um pormenor interessante.
c) Desta forma, temos direito a “meter o bedelho” no conteúdo da mesma moção sem parecer excessivamente intrometidos.

Agora quanto ao comentário propriamente dito:
Esta iniciativa de um grupo de militantes, encabeçados por TM, tem alguns méritos, um ou outro demérito e uma perplexidade.

Entre os méritos, o mais importante será o de apresentar uma visão diversa para o CDS da que foi a de Paulo Portas e a de claramente assumir os erros cometidos nos últimos anos por um partido que aceitou homogeneizar-se ao extremo e perder a riqueza que a diversidade de perspectivas sempre traz ao debate político. O diagnóstico está correcto, mesmo se já foi feito há muito pela generalidade dos analistas externos.

Entre os deméritos, terá o facto de, neste momento, porventura, algumas das suas propostas serem de molde a facilitar os interesses não expressos de Paulo Portas, certamente pouco interessado numa solução de liderança personalizada como foi a sua e que, embora dificilmente, pudesse fazer esquecer o seu próprio papel. Um outro demérito, mas talvez motivado por necessidades de discurso interno, é a culpabilização do eleitorado e a vitimização do partido.

Quanto à perplexidade, é impossível deixar de referir que os temas-fortes da moção parecem um retorno ao PP de Manuel Monteiro e, na essência, a uma combinação entre as bandeiras da Nova Democracia (o nacionalismo) com alguns velhos chavões que permanecem no CDS (a defesa da vida, o liberalismo).

Mas mais importante do que tudo isto, achamos que o CDS-PP precisa de resolver alguns dilemas quanto à sua matriz ideológica – é democrata-cristão, é neo-liberal, é conservador, é europeísta ou não, é tudo isso e nada ao mesmo tempo -, às suas características – é um partido de quadros ou de bases, prefere uma liderança personalizada ou semi-colegial, é elitista ou populista ? - e à sua estratégia eleitoral – é um partido que fala só para nichos eleitorais (reformados, veteranos da guerra, classe média ou o quê ?), é um partido que pretende abrigar os que se opõem ao “sistema” (como nos tempos de Monteiro) ou pretende ir à caça em todos os tabuleiros, mesmo sabendo que a natureza das coisas lhe impõe um tecto de 8-10% em dias bons ?

A estas questões esta moção apenas apresenta resposta para o primeiro problema - definição ideológica claramente no campo do liberalismo e só em parte no da democracia-cristã -, deixando uma meia resposta quanto ao resto. No fundo, é uma moção que volta a querer "endireitar" o partido, levando-o para um campo de teórica pureza de princípios, mesmo se isso for à custa de eleitorado e do acesso imediato ao Poder. Digamos que é assim como que algo equivalente ao que se passou recentemente com o PCP.
Parece coerente, mas não sei se, caso vencesse, não iria afastar muitos dos que gostaram de apanhar umas fatiazitas do Orçamento de Estado e uns lugarzitos ao Sol nos últimos anos.
É que isto dos radicalismos puristas, tem muito que se lhe diga quanto à capacidade de os manter.
Veja-se o exemplo do próprio Paulo Portas entre 1995 e 2002.

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