Neste fim de semana, o nosso amigo e leitor Al visitou-nos e a parte final da tarde passou numa acesa discussão sobre o que é a liberdade de ensino e o que deveria fazer-se para melhorar a situação.
Ele tem descendência no ensino básico (um no público, outra no privado), enquanto eu ainda tenho apenas no pré-escolar (privado).
A nossa maior discordância verificou-se naquilo que ele chama a falta de liberdade de ensino do sistema público.
Não se revendo nos princípios da escola pública, que considera não transmitir os valores que considera adequados à educação dos seus filhos, Al acha que o Estado deve permitir – através da concessão de um instrumento como os “cheques-ensino” – às famílias escolherem onde querem colocar os seus filhos a estudar, facultando-lhes os meios (ou pelo menos parte) financeiros para isso. É sua opinião que o Estado, numa postura abusivamente homogeneizadora e falsamente neutral, limita a liberdade das famílias em obterem para os seus filhos o tipo de educação que desejam, em particular no plano dos valores essenciais à formação da personalidade. Sendo o Estado incapaz de oferecer o que os cidadãos precisam, deve permitir-lhes que procurem o que querem em outros ambientes.
É isso que considera ser um clima de verdadeira liberdade de ensino.
A minha posição é diferente, porque acho que o sistema público deve assegurar, no seu âmbito, uma igualdade de oportunidades (e não uma igualdade forçada de desempenhos) com um sistema universal que atenda a todos de acordo com a sua diversidade, o que só pode acontecer se limitar ao mínimo denominador comum a sua postura ideológica ou “moral”. Considero ainda que, embora simpatizando teoricamente com a proposta dos cheques-ensino (ou vouchers) para alargar a liberdade de ensino, discordo bastante dela na prática que temos por cá do ensino privado. Para mim, a solução não está em pedir ao Estado para financiar a ida para outras (que que se consideram melhores) paragens, mas em obrigar o Estado em melhorar o sistema público de Educação.
Como se faz isso ?
Recusando o facilitismo e o desleixo, a autodesculpabilização e a desresponsabilização.
Em todos.
Nas famílias, que não se envolvem na vida das Escolas como deviam; ou seja, não é criticando a pontual nota do filho num teste ou período mas apoiando a participando activa e construtivamente nas Associações de Pais que esse envolvimento deve acontecer. A legislação reserva muitos direitos não exercidos mas que, mesmo com a desconfiança da gestão das escolas, devem ser explorados no bom sentido.
Nos professores, que não se podem justificar no baixo salário, no desprestígio social da função ou nos defeitos do sistema para se eximirem às suas responsabilidades. Se não concordam com o sistema saiam dele, façam outra coisa. Se querem ficar nele por razões de segurança laboral, esforcem-se pelo menos no plano individual por melhorar as coisas. Acho que a isso se chama Ética,
Nos decisores políticos, que deviam, de uma vez por todas, esquecer os ressabiamentos herdados do seu trajecto escolar pessoal e aquelas teorias muito lindas no papel e no gabinete, mas que não funcionam na prática. O legado do Maio de 68 na matéria do ensino foi um desastre completo, mas temos sempre uma Benavente à espreita para o reavivar. A exigência e o rigor são essenciais nesta matéria. Li algures que os consrvadores são melhores educadores e, embora não concorde por completo, a idade começa a produzir efeitos nas minhas convicções.
Nos executantes administrativos intermédios (Direcções-Gerais, Conselhos Executivos), procurando melhorar o que podem no seu âmbito de responsabilidades e não se esquivando com o recurso às desculpas do costume. É verdade que os sistema incute o desânimo e frequentemente recompensa de igual forma competentes e incompetentes, chegando mesmo a premiar os ineptos carreiristas e os que se acomodam ao facilitismo, mas isso não é razão para parar de lutar por algo melhor.
Nos sindicatos, que deviam deixar de ser correias de transmissão de interesses alheios à Educação para passarem a preocupar-se com o que interessa. Marcar duas greves por ano é uma estratégia desastrosa em termos de defesa de um grupo profissional, porque se limita a uma coreografia que interessa ao próprio Ministério e cada vez obtém menor adesão e impacto. Os sindicatos não podem ser refúgios para os que querem aparecer no retrato ou desaparecer do activo. Também eles podem ajudar a melhorar as coisas.
E, depois, a verdadeira mudança passa, individualmente, por todos nós.
Não termos medo de ser exigentes e de que sejam exigentes connosco.
Só assim poderemos todos, em conjunto, melhorar.
Este assunto não é para ficar por aqui.
Há muito que não ficou aqui falado.
Para além disso, acredito que o Al vai responder.
E eu não sou tipo para não replicar.
E aceitam-se todos os contributos.
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