quarta-feira, abril 13, 2005

Resposta a Al e não só

Em relação aos post anteriores, vou tentar dar uma resposta concisa e não excessivamente irónica, no caso do Manifesto da Associação Portuguesa de Famílias Numerosas.
Mas é com alguma dificuldade que leio o que escreve a dita Associação. Conheci, por acaso, uma pessoa ligada a este tipo de movimentos e vem-me sempre à memória a sua figura e o seu trajecto de vida, por isso...
Mas, enfim...
Vamos por partes.
Não concordo com a generalidade das posições da APFN.
Acho que pretendem um ensino em que a religião tem um peso determinante e excessivo. Acho que têm o direito a querê-lo, a exercê-lo e a frequentá-lo. Não têm o direito de exigir do Estado, em que existe uma separação da Igreja (de qualquer Igreja), que lhes pague esse tipo de ensino. O ensino num Estado laico deve facultar elementos de educação religiosa, mas não um ensino de cariz religioso. É o que a APFN pretende, é o que está explícito nos seus princípios associativos, e isso não tem cabimento num sistema de ensino moderno e universal. Querem esse tipo de ensino, então, e para não ser menos educado, organizem-se...

Agora, quanto à dramatização de Al com base em materiais que viu sobre a educação pré-escolar, apontaria dois ou três detalhes:
a) É uma dramatização dramática, para obter um efeito dramático.
b) Não me choca por aí além que as crianças aprendam diversos tipos de linguagem, desde que percebam os contextos. Aos 3 e 4 anos não será a idade mais adequada, mas já vi criancinhas dessa idade usarem a despropósito esse tipo de termos de calão, "apanhados" por aqui e ali. Antes aprender em que situações surgem, como os evitar e (não) usar. É só passarmos junto de uma escola, mesmo do 1º ciclo, durante um intervalo, e ouvimos isso, mesmo sem estarem em aplicação aulas como a descrita. Andei na Escola em plenos anos 70, em especial no imediato pós-25 de Abril quando dizer palavrões era sinal de liberdade e dava estatuto. Só os passei a proferir, mentalmente ou em surdina, quando passei a conduzir com regularidade, no início dos anos 90, quando já estava a meio dos meus vintes. A cedência à facilidade também depende de nós e da educação que nos é dada em casa.
c) Percebo o incómodo que alguns sectores da sociedade revelam sempre que se avança com qualquer tipo de iniciativa que mexa com temas como a religião ou a sexualidade. É complicado gerir essas situações no ensino público. Mas existem soluções para isso. Nunca seria por causa de um problema como o descrito que eu optaria pelo ensino privado para a minha descendência (numerosa ou não). Felizmente, sinto-me capaz de, em casa, suprir as lacunas ou cortar os excessos do que é transmitido na Escola. Nada me garante que um ensino de tipo "moral" ou "religioso" seja a boa solução. Nem vale a pena exemplificar com situações concretas passadas em instituições educativas controladas pela Igreja, onde a crueldade psicológica e a repressão de certos temas pode ser bem mais nociva para a formação da personalidade do que desvarios pseudo-pedagógicos de um(a) educador(a) mal-formada.
d) O Estado e a Igreja (qualquer Igreja) são entidades separadas.
e) A defesa da liberdade de ensino não deve ser artifício para justificar o financiamento de sistemas de ensino particulares, sejam eles católicos, evangélicos, hindus, islâmicos, maçónicos, trotsquistas, marxistas ou o que calhar. Esse argumento, para ser levado a sério, legitimaria qualquer tipo de ensino baseado em princípios alternativos ou "diferentes" dos veiculados (ou não veiculados) pelo actual sistema público. A liberdade de ensino não passa por aí.

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