A cada novo debate sobre o aborto/IVG a dose de tédio que se me instala aumenta desmesuradamente.
As posições fazem-me lembrar a guerra de trincheiras da Grande Guerra.
Estamos na nossa. Mandamos umas bombas aos outros, que estão nas deles.
Saímos para fazer umas surtidas ineficazes.
Mas, no fundo, fica tudo na mesma, só se lixando o mexilhão mandado para a carnificina (podem considerar isto literal, metafórico ou o que entenderem conforme os gostos).
Como estava em trânsito, apanhei parte do debate na TSF, mais exactamente aquele bocado em que acabava de falar o enésimo líder fracturante da JS, começando a entaramelar o deputado "centrista" João de Almeida, sobre o qual vou reservar os adjectivos, para não perder tempo com irrelevâncias (sejam elas os adjectivos que afloram, o deputado ou a sua irreverente interpelação).
Seguiu-se a estrela da tarde, ou seja, a ex-camarada Zita Seabra.
Apesar do começo hesitante, a senhora apresentou uma argumentação tão coerente e lógica como aquela que apresentou há mais de 20 anos para defender a posição contrária. O mundo mudou é certo, mas também a ex-camarada alterou certamente as suas firmes convicções de outrora.
Neste caso, o CDS aplaudiu, não tendo o seu líder demissionário subido à tribuna para interpelá-la, como fez a Freitas do Amaral pela sua deriva política.
Picaresco ainda o detalhe do áparte de Odete Santos, lembrando a Zita Seabra que a sua declaração de voto de então tinha sido redigido pela camarada Odete e não pela própria oradora.
Mas adiante.
No fundo, concordo com tudo o que a fresca e nóvel laranja afirmou.
Temos uma lei que prevê o planeamento familiar nos hospitais e a educação sexual, de forma a tornar o aborto o último recurso. No entanto, ninguém a faz verdadeiramente cumprir e são as mesmas forças políticas que se opõem a discutir de novo a lei, aquelas que mais bloqueiam a implementação da educação sexual em tempo útil, ou seja desde o início da adolescência.
Infelizmente para mim, e talvez por causa deste debate, um familiar contou-me a situação de uma colega de trabalho que recorreu há poucas semanas a uma famigerada clínica de Badajoz, profusamente anunciada na imprensa portuguesa sem que contra isso se tenha até hoje movido um dedo das mãos que assinaram as ordens restritivas para o barco da Women on Waves.
A situação concreta oscila entre o dramático e o caricato, mas acaba com uma mulher de 29 anos, sozinha, a fazer a A23 entre Lisboa e Espanha nos dois sentidos, no espaço de umas 8 horas.
As causas: muita estupidez, certamente, que aqui não irei expor.
A solução: dificilmente outra diferente da que foi, no contexto actual.
A defesa da vida é um valor. Nisso concordo em absoluto.
Que tal começarmos pelos vivos ?
(Embora saiba que para muitos, desde o choque do espermatozóide com o óvulo, já existe vida, não estando agora para retomar uma discussão sobre a natureza da vida que já aqui tivemos há muitos meses.)
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