No já distante ano de 1994, a revista Colóquio, Educação e Sociedade da Fund. Gulbenkian produziu um número em grande parte dedicado à análise do papel das elites na sociedade, em particular da portuguesa.
Em especial um dos artigos veio-me à memória, por ocasião de uma troca privada de mails com um dos nossos leitores, em especial quando lhe escrevia que descreio da verdadeira existência de elites em Alhos Vedros (económicas ou culturais) e, por extensão, no nosso próprio país. O que existem são grupos com estratégias de poder em determinadas áreas, o que para mim é diferente.
Mas fiquemo-nos com uma passagem do artigo produzido por Veiga Simão para o dito número da dita revista:
«Temos de admitir, como verdadeiro, que estudo e engenho se divorciaram cedo no nosso País e não se juntaram bem até aos dias de hoje. Talvez porque o engenho tivesse partiudo nas levas sucessivas de que a História dá conta... Talvez porque o estudo não pode expandir-se, em harmonia, deixxando congelar muita inteligência perdida, em ribeiros do interior. Talvez porque não nos abrimos, em tempo adequado, às aplicações científicas e técnicas dos conhecimentos...
(...) Neste clima foi fácil a proliferação de elites, facilmente dominadas por interesses específicos, sem visão global e modernizante da continuidade da nossa missão histórica. Foi fácil a algumas dessas elites estrangeirarem-se por subordinação, importando, com atraso, modas com que conviveram noutros países ou viveram em tertúlias. As elites dominantes tenderam a ser imitativas, defensivas dum status quo, em vez de inovadoras e agentes da mudança necessária.
Por isso nunca se interessaram por definir e fazer prevalecer um modelo integrado de desenvolvimento para o nosso País, agindo com lentidão perante o divórcio da Escola e do Trabalho, das Universidades e das Empresas e satisfazendo-se com as caricaturas de Portugal como País de analfabetos ou como País de Doutores.»
José Veiga Simão, "A Importância das Elites", in Colóquio, Educação e Sociedade, Dezembro de 1994, nº 7, pp 133-134.
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