segunda-feira, junho 13, 2005
A Direita já pode dormir em Paz !
Por um daqueles acasos que os místicos considerariam altamente simbólicos, desapareceram num par de dias as duas figuras mais míticas de uma certa Esquerda portuguesa, ou seja, Álvaro Cunhal e Vasco Gonçalves.
O primeiro marcou toda a segunda metade do século XX em Portugal, para não dizer mais, enquanto Vasco Gonçalves foi o símbolo maior da deriva revolucionária da governação pós-25 de Abril.
Um representava uma adesão intelectual profunda ao marxismo-leninismo e só isso pode explicar a sua resistência a todas as provações, assim como a coerência do seu percurso de vida. O outro parecia representar uma adesão profundamente emocional a essa mesma ideologia, só assim se explicando o fogacho intenso que correspondeu ao ano e picos em que liderou o poder executivo, do II ao V Governo Provisório.
Nestas alturas, fica bem elogiar os defuntos.
E esse tipo de elogios já começou por parte de muitos dos que os ofenderam violentamente em vida, e quando escrevo ofenderam não quero dizer criticaram porque são coisas bem diferentes.
No entanto, devia existir um mínimo de pudor nestes elogios fúnebres dos sobreviventes.
Para mim, que não sou marxista, nem leninista, nem nada acabado em "ista" - a não ser comodista - ambos representaram a adesão a uma forma ideal de conceber a vida em sociedade que não tem meios de conseguir uma verdadeira realização prática. Como muitos outros, de muitos quadrantes políticos e ideológicos, promoveram ou deram cobertura a acções que nem todos considerarão as mais adequadas, correctas ou mesmo justas. E isso é comum em quem adere a crenças que se tornam uma espécie de fé (ir)racional.
Mas o seu lugar na História irá ficar, quer se queira quer não.
E, a partir de hoje, pelo menos aquela Direita que os usava e ao PREC como justificação privativa para todos os males do País e para as suas próprias incapacidades, já poderá exorcizar os seus Demónios e dormir mais descansada, sem medo que um dos bichos-papões a venha atormentar.
O Otelo ainda vai andar por aí uns tempos, mas já não é razão para grande alarido.
AV1
(Acrescentaram-se uns boldzitos para avivar o texto, que é para o pessoal perceber a mensagem e não se ficar apressadamente pela superfície...)
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