sábado, julho 22, 2006

Demasiado complexo para respostas simples

Como em tudo, a evolução da nossa sociedade tem agravado os fossos entre quem pode e quem não pode.
Ao nível da habitação, temos a nascerem como cogumelos condomínios privados e urbanizações de aviário.
as duas faces da mesma moeda que se querem ver pelas costas.
Pelo meio ficam uns arremedos de "vilas" e "quintas" que tentam apanhar os estratos médios que cada vez estão mais minguados.
Por outro lado ainda temos a necessidade de realojar quem não tem condições de vida condignas.
Como organizar tudo isto a nível de planeamento urbano?
Apostar numa estratégia de heterogeneidade social como defendiam algumas teorias dos anos 60 e 70, fazendo coexistir espaços com ocupações sociais tendencialmente distintas?
Ou separar os espaços, para que cada grupo se sinta mais à vontade e não ameaçado por presenças estranhas?
Este não é um problema como resolução fácil e nós pelo concelho sabemos disso, por variadíssimas razões.
Recentemente, para além da polémica em torno de um empreendimento na Flor da Mata, em Pinhal de Frades, tenho contactado com dilemas individuais de pessoas que se sentem desorientadas ou incapazes de poder tomar a decisão desejada, em virtude das circunstâncias económicas e sociais que enfrentam, desde os familiares de um amigo de Setúbal que, necessitando de mudar-se, ficam sem saber para onde em virtude da política de preços que encarece desmesuradamente habitações em zonas "seguras" por comparação com as que ficam em zonas com vizinhanças "suspeitas, até a outro que, perante a crise do sector, viu vizinhos a sub-alugarem ou mesmo construtores a arrendarem, por falta de venda, apartamentos a grupos de trabalhadores oriundos de Leste, num regime algo marginal às legalidades instituídas, não esquecendo ainda quem, depois de investir as poupanças numa moradia maneirinha, depois leva com o inesperado às portas da sua urbanização, em virtude dos atroplelos aos planos originais ou mesmo quem, tendo casa quase nova, a vê degradar-se em três tempos e o construtor responsável eximir-se às responsabilidades legais.
A verdade é que, em tempos de agravamento dos fossos sociais e de crise económica, o problema da habitação ganha cambiantes mais negros e as situações tendem a complicar-se.
Que fazer com os PER?
Criar guetos isolados e encerrar comunidades sobre si mesmas ou apostar numa miscigenação social que muitas vezes conduz a atritos graves?
Pelas nossas bandas temos a experiência do Vale da Amoreira e da Fonte da Prata que, durante muito tempo, funcionaram praticamente como guetos isolados e separados do resto.
Agora, pelo contrário, com a aposta numa suburbanização galopante, parece querer misturar-se de tudo um pouco, sem análise das consequências possíveis.
A convivência, por enquanto pacífica, entre as "duas Fontes da Prata" foi possível em grande parte porque a "nova" não teve a afluência que os promotores previam, pois a "velha" lá permaneceu sem que a sua reabilitação arrancasse a tempo, só agora surgindo a construção de infraestruturas há muito necessárias ou pedindo melhoramento.
Na Moita, a expansão para a "Nova Moita" beneficiando dos novos acesso pela Ponte Vasco da Gama foi feita de forma sóaparentemente ordenada, mas no modelo de dormitório quase sem espaços de lazer próprios e com a rede viária a prever só a chegada e a saída não a circulação das pessoas.
As obras e os remendos entre o Palheirão e o Juncalinho disso são uma prova.
Depois temos aquela urbanização de vivendas que parece para um estrato socio-económico superior mas que é feita paredes-meias com zonas em acelerada degradação e mesmo com zonas de acampamentos semi-nómadas.
Mas os exemplos podiam continuar, com especial destaque para a deficiente qualidade dos equipamentos urbanos da Vila Verde em Alhos Vedros ou a sobrecarga de determinados espaços da Baixa da Banheira, tanto a norte como a sul da via férrea, onde de novo se parece esquecer que não chega fazer ruas mais largas e definir uns estacionamentos minguados, sem garagens em muitos edifícios, se a carga de população vai reflectir-se nas zonas envolventes não preparadas para isso e tornam um sofrimento tentar circular nelas.
No fundo, fazem-se os chamados "planos de pormenor" e esquece-se o plano geral.
Retalham-se áreas, pensadas de forma isolada e não articulada com as envolventes.
Isso é culpa de quem?
Invertendo toda a lógica, hoje vou dizer que a culpa é dos cidadãos que são obrigados, por razões económicas, a alimentar este estado de coisas, pois não têm meios para ser mais exigentes.
E é isso que falta.
Exigência.
De rigor.
De competência.
De visão de conjunto.
Mas quem se habitua às rotinas e aos esquemas do costume e não é pressionado para mudar, nem tem capacidade para enfrentar os erros cometidos, dificilmente muda de comportamento e de esquemas mentais.

AV1

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