Esta é uma fábula recolhida oralmente em terras do interior distante, nada que se pudesse passar perto de nós. A estória é transmitida de boca em boca como homenagem a um acontecimento fabuloso e inexplicável que terá ocorrido em tempos idos e imemoriais na aldeia da Marrafinha, a meio caminho entre a vila do Arbusto Tresmalhado e o Sobreiral Velho.
Então reza assim:
Dizia lenda que essa terra de quase 3 hectares era antigamente, há muitos e muitos anos, cerca de 3 a 4 anos coisa e picos, propriedade de um pastor, gente pobre, humilde e sincera, que ficava colada com outra de umn Dr. De Tal, homem que sabia de leis e transformar terra verdejante em casario de pedra com as devidas autorizações passadas de papel passado, mesmo quase sem requisição.
Queria então o velho pastor vender a sua terrinha para gente da cidade, anunciando ele aos interessados compradores: "Que poderiam fazer uma casa tão bonita e tão grande como ali o senhor Dr De Tal. Ele fez, os Senhores se comprarem a minha terra também poderão."
Mas era engano, engano puro. O senhor Dr. conseguiu fazer casa, sobreloja, empedrado, tanque modernaço, etc e muito mais, tudo em terreno verdejante que era e não era de baixo valor, ou melhor, que não era mas tinha já passado a ser.
Mas os interessados compradores metiam papéis e mais papeis à Prefeitura e nadica de nada. Népia. Zero. Nem batatinhas.
Reza ainda a lenda que, nessa impossibilidade de vender a sua terra para alguém fazer casinha, o pobre do bom pastor acabou por vender o terreno verdejante de pouco valor ao benemérito senhor Dr, De Tal. A preço de saldo, de tão pouco valor que lhe diziam ter. Quase a Zero, pouco mais que a tostão.
E depois? Depois foram 2 ou 3 anos de pousio. E eis senão quando...tan tan tan...
O Projecto de Desenvolvimento Milagroso da Prefeitura da vila do Arbusto Tresmalhado reserva para os tais hectares não uma casa, mas graças ao milagre miraculoso da multiplicação multiplicada toda uma fileira de alegres casinhas, urbanização dizem os jovens mais modernos, que já foram à cidade grande, do outro lado do riacho.
Não é o milagre da multiplicação dos peixes, mas é o milagre da transformação da água em vinho, e do bom, e também o milagre da multiplicação do casario. E do crescimento sem parar de uma coisa que os homens de sabedoria e estudos, capazes de escrever mais de duas linhas, chamam "solo urbano" com fundamentações que podiam existir mas não existem por demonstradas se acharem, mesmo se ao arrepio dos usos e costumes que passam por ser lei quando convém.
Gritaram alguns invejosos e maledicentes, quase todos da terra vizinha de Cebolais Maduros: "Heresia, heresia, que isto é favor àquele Dr. De Tal por serviços vários e desvairados prestados à Prefeitura e outros ainda por prestar". Ingénuos outros interrogavam-se se aquilo era modo de tratar como igual quem o devia ser, mas pelos vistos não era.
Ao engano andavam todos, que isto das terras verdejantes tem muito que se lhe diga e nem sempre o que verdeja é ouro, só quando é Midas quem as sabe comprar.
Mas tudo isto é lenda, tudo isto é fado.
Fantasia popular, na certa, que estória verdadeira ninguém nela poderia acreditar.
Recolha do etnólogo (não é enólogo, seu beberrões...) Lá Fontão, com ajuda do escriba Ânus do Cristão Andarilhão
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