domingo, julho 02, 2006

A Moitice Suprema

O Brocas e o Oliude já escreveram sobre o assunto e, portanto, eu podia poupar o meu verbo e a vossa eventual paciência.
Mas a verdade é que a semana que se adivinha não se afigura das mais agradáveis em várias matérias, pelo que tendo uma causa justa sobre a qual descarregar a bílis não me vou coibir de o fazer.
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A coisa é conhecida.
Já não sei quando o Pedrito de Portugal, esse símbolo do toureio nacional em foma de espargo ambulante mais corneado que qualquer moiteiro médio bem casado, veio à Moita e, com o incentivo da organização e da populaça boiteira, matou um touro em plena Praça Daniel do Nascimento.
A publicidade em torno do evento, talvez para colocar a Moita no mapa e equipará-la a Barrancos, foi muita e espaventosa.
Conhecida a ilegalidade, houve queixa judicial e em Tribunal foi definida uma coima de 100.000 euros a pagar pelo dito Pedrito que, como amigo dos fundilhos da sua carteira, alegou que o não fazia e implicitamente dava a entender que quem o incentivou a fazer o que fez é que devia ajudá-lo a pagar.
O que, em boa verdade, tem a sua razão de ser.
Ora muito bem, está aprazado para as 6 da tarde de hoje um festival taurino (será que tem alguma coisa a ver com a Eurovisão?) destinado a angariar fundos para o pagamento da dita coima.
Curiosamente, acho bem e acho que todos os boiteiros e boiteiras que vibraram com a cobarde morte do touro, deverão estar la e pagar do seu bolso a sua quota-parte do valor da coima.
Até aí a coisa anda bem.
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Agora há algo que no meio disto tudo me dá a volta ao bestunto e ao estômago, não tivesse eu acabado de comer uns lombinhos estufados com um arroz malandrito de vegetais.
Consta que a Câmara moiteira, seguindo o alegado espírito de aficionado do seu presidente - e de não sei mais quantos eleitos - terá comprado uma boa maquia de bilhetes para o dito festival, tendo-os distribuídos por eleitos, familiares e amizades próximas.
Até acharia isto natural, caso tivesse sido a CMM a organizar a corrida onde se matou o touro.
Até acharia isto natural se o os vultos mais sonantes do executivo actual não se tivessem tornado, em matéria de contestação à sua acção, uns democratas formalistas até à medula.
Recordemos o enfado do Presidente João Lobo pelos modos como os habitantes da Barra Cheia o interpelaram no edíficio da Câmara.
Não nos esqueçamos dos ataques brutais dos aparelhistas da situação local contra toda e qualquer contestação à acção das autarquias que nos governam, considerando ilegítima toda a opinião que não represente a visão dos vencedores das eleições.
Relembremos a investida da segunda linha do poder moiteiro contra os blogs como o AVP, exigindo que as regras são para se cumprir e que as denúncias e queixas aqui e acolá feitas devem ser feitas de acordo com os trâmites processuais legais.
Não apaguemos da memória a forma como, de novo o Presidente da edilidade, qualificou em entrevista a questão da sua aposentação, realçando a legalidade de todo o processo.
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Ora bem: com que então se é para contestar a acção do executivo camarário, se é para denunciar situações de completo desvario na gestão urbanística e ambiental local, devemos seguir as regras, fazer requerimentos, cumprir as formalidades, usar os canais regulamentares e tudo o mais.
O Presidente refugia-se na legalidade em assuntos relacionados com a sua conduta, recusando juízos públicos e/ou políticos.
Mas, se é para dar cobertura a um acto perfeitamente ilegal e feito publicamente, com decisão judicial já conhecida, esse mesmo executivo camarário já se sente no direito de quebrar as regras e usar dinheiro público para financiar uma homenagem a esse mesmo acto ilegal.
E não nos iludamos: aqui ninguém está a fazer um festival em favor de nenhum direito cívico ou em defesa de nenhum indíduo ou grupo social oprimido. Aqui está a vangloriar-se a morte de um touro perante uma turba ululante constituída, fundamentalmente, por grunhos armados em marialvas corajosos de rabo sentado na bancada.
Portanto, os outros devem cumprir os formalismos legais, mas "nós" fazemos o que queremos, quando entendemos.
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Nada me chocaria que, de seu bolso, os autarcas aficionados comprassem bilhetes para si e quem mais quisessem presentear.
Era algo feito a nível individual e cada cidadão é livre de ter o (mau) gosto as (más) práticas que entende.
Agora usar dinheiro público para esse efeito?
Dando a caução do poder local a uma flagrante ilegalidade?
É patético, é triste, é vergonhoso e é muitas coisas mais!
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Mas também não tenho ilusões que isto vai passar em claro, fora das discussões bloguistas porque a Oposição que temos ou é tão aficionada quanto aparentemente é o señor Presidente da Câmara ou é demasiado paninhos quentes para levantar - já não digo a ilegalidade, que vou deixar de parte se existe - a imoralidade de tudo isto, a falta de ética e decoro mínimo exigíveis a quem ocupa cargos públicos e deve dar o exemplo de cumprimento das regras vigentes na sociedade não apenas quando lhe convém e disso faz propaganda mas, por coerência, em todas as situações.
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Tomara eu que isto estivesse entregue aos bichos.
Estaríamos, por certo, em melhores patas.

AV1 (a foto ou é do Brocas ou do Oliude, já não me lembro)

3 comentários:

Carlos (Brocas) disse...

No que me diz respeito, a foto é do povo.
Então e não é que os Banheirenses censuraram os meus comentários a desejar boas férias?

AV disse...

Eles andam offline, não leves a mal. Eu acho que dos meus tb só apareceu um.
Problemas "técnicos", claro.

Anónimo disse...

E o que é mais preocupante é que os vereadores da oposição acharam isto tudo muito normal, e, felizes e contentes, aceitaram os bilhetinhos para a corrida.