sexta-feira, abril 21, 2006

Valem o que valem

Mesmo não concordando com toda a linha de argumentação do post do Abrupto, eis um longo excerto sobre a realidade e o que valem certo tipo de comentários e comentadores:

«Deixando de parte a polémica sobre as caixas de comentários abertas ou moderadas, ou sobre a sua própria utilidade e valor, deixando de lado também a história pessoal inverificável do que aconteceu à sua autora (ou autor?) anónimo, o interessante é registar que o que há nesse blogue é uma comunidade que aproveita o “lugar” para se encontrar. A caixa de comentários tornou-se numa espécie de chat, que parasita a notoriedade do blogue, como já acontecera no Espectro com os seus finais 494 comentários, onde as pessoas se encontram numa pequeníssima “aldeia global”, que tomam como sua.
O comportamento destas pessoas-em-linha é compulsivo, eles “habitam” nas caixas de comentários que são a sua casa. Deslocam-se de caixa para caixa de comentário, deixando centenas de frases, nos sítios mais díspares, revelando nalguns casos uma disponibilidade quase total para comentar, contra-comentar, atacar, responder, mantendo séries enormes que obedecem à regra de muitos frequentadores desta área da Rede: horário laboral na maioria dos casos, quebra no fim-de-semana e nos feriados. São pessoas que estão a escrever do seu local de trabalho ou de estudo, de empresas ou de escolas, onde tem acesso à Internet. Há no entanto, alguns casos de comentadores caseiros e noctívagos, que só podem estar a escrever noite dentro, como era o caso nos primeiros anos da blogosfera portuguesa, antes de se democratizar. É um fenómeno aparentado com muitas outras experiências comunitárias na Rede, mas está longe de ser o mundo adolescente dos frequentadores do MySpace ou dos “salas” de conversa virtual.
No caso português, os comentadores não parecem ser muitos, embora a profusão de pseudónimos e nick names, dê uma imagem de multiplicidade. São, na sua esmagadora maioria, anónimos, mas o sistema de nick names permite o reconhecimento mútuo de blogue para blogue. Estão a meio caminho entre um nome que não desejam revelar e uma identidade pela qual desejam ser identificados. Querem e não querem ser reconhecidos. É o caso da “Zazie”, do “Euroliberal”, do “Sniper”, do “Piscoiso”, “Maloud”, “Bajoulo” “Xatoo”, “Atento”, Dasanta”, “José”, “e-konoklasta”, “Cris”, “Sabine”, “José Sarney”, “anti-comuna”, etc,, etc, Trocam entre si sinais de reconhecimento, cumprimentam-se, desejam-se boas férias, e formam mini-comunidades que duram o tempo de uma caixa de comentários aberta e activa, o que normalmente dura pouco. Depois migram para outra, sempre numa tempestade de frases, expressando acordos e desacordos, simpatias e antipatias, quase sempre centrados na actividade de dizer mal de tudo e de todos.»

Para quem quiser contraditório, aqui fica uma tentativa na Grande Loja.

Asbrubalino Tinhoso

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