segunda-feira, julho 17, 2006

Réplica ao AV2

Meu Caro AV2,

Obrigado pela vossa solidariedade sempre, e mais uma vez pelo espírito de simpatia, bem como de causa e destino comuns (…”A verdade é que a malta da Barra Cheia se lixa e de caminho nos lixamos todos.”), cf mais uma vez patente no seu “post” de Sábado, 15 Julho 2006, sob o título “Isto aqui é um espaço plural” no AVP.
Compreendo o seu desespero (…”os moiteiros e os amoitados nunca vão sequer querer perceber.”), mas discordo, e amistosa e frontalmente lho digo, da sua conclusão (…”Eu não estou interessado já nesse tema…do PDM da Moita”).
Recordo-me que há cerca de um ano, houve uma interessante polémica presente em “Réplica dos Moradores e Proprietários” e “Pois, pois, pois...” de 26 Julho 2005, a propósito de um “post” de base bastante comparável em “Não vou perder muito mais tempo”... de 25 e 26 Julho 2005.
Muito do que na altura se escreveu, mantém-se hoje bem actual.
Mas seria um despropósito repetir hoje maquinalmente uma por uma as reflexões na altura aí esgrimidas com muito respeito mútuo por AV1 e por m&p.

Por isso, permita-me que me meta eu hoje por outra vereda, e lhe conte o que me vai na alma sobre o futuro que antevejo para o processo de revisão do PDM da Moita, versão apresentada pela CM da Moita e pela Equipa Técnica de Revisão a 5 Julho 2005.

Em minha opinião, pode não ser seguro, mas mesmo assim parece realista poder prever-se que o desgraçado Projecto de Novo PDM para a Moita que aí temos pode vingar.
Pode vencer.
Como igualmente pode ser chumbado.
Pode cair.
Com ele caindo tudo o que de negativo essa burrada, melhor, essa maquinação e esse monstro de PDM acarreta, em termos nomeadamente do que advoga no seu eixo central, a saber:

* crescimento do solo urbano no concelho, de modo tresloucado e ao arrepio do que taxativamente a lei determina sobre a passagem excepcional de solo rural a solo urbano, com um fim último, macadamizar e betonizar cada m2 da península de Setúbal, Moita estouvadamente incluída, e ligar num futuro próximo com casario pegado toda a Península desde a Cova da Piedade em Almada até às Manteigadas em Setúbal,
* promoção de políticas de favor e de misterioso e rápido enriquecimento pelo menos para meia dúzia de destinatários privilegiados, com a lei rasgada às claras no altar das jogatanas de bastidor entre decisores da Administração e promotores fundiários particulares, em práticas ilegais que nenhum Partido ousa defender oficialmente, excepto talvez um qualquer partido de má fé, que entre nós dizem que não existe e que onde existe dizem que é pouco vertical, antes sói ser sem princípios e transversal,
* aplicação de medidas erradas e desnecessárias, enroupadas em discurso nobres e credíveis na discursata, mas de embuste e falácia reles no concreto aqui e agora, medidas essas traduzidas nomeadamente na aplicação cega de classificações REN disparadas à queima roupa contra os interesses da população das zonas rurais, numa prática autista de propaganda sobre aquíferos e permeabilidade dos solos, e de opressão e tirania contra portugueses gente simples, à laia das práticas da tirania.
Mais uma vez, não interessa repetir o muito que já se sintetizou na parte 3 do texto "!Importa-se de me explicar isso do PDM...", , bem como nas partes 1 e 2 do mesmo artigo, nem relembrar tanta matéria tão profusamente escrita sobre o tema, de que este texto ou este são apenas alguns de uma vastíssima lista de exemplos.

O que importa mesmo é reflectir sobre o que pode vir aí, sobre os capítulos desta farsa, ou desta tragédia, que se podem descortinar.
E sobre isso, eis o que penso:

O Processo de Revisão do PDM da Moita entrou em contradições insanáveis, a saber:
* Se vinga a aprovação do novo PDM, as populações sacrificadas não se vão calar, não se vão conter. Irão previsivelmente defender-se com todas as armas que terão ao seu alcance, no quadro da democracia formal em que vivemos. Não haverá sede de apelo a que não se apele, não haverá tribunal a que não se recorra, não haverá tribuna de opinião pública que não se utilize, sempre com um fim claro: procurar impedir o erro, desmontar o embuste, desmascarar o compadrio! Resultado? Não sei, mas não será seguramente um cenário tranquilo e prestigiante para os pais e beneficiários do malfadado Projecto de Novo PDM da Moita, para desgraça de políticos manhosos, de técnicos servis, de lobbistas do investimento levado ao colo da Administração amigalhaça de uns poucos, madrasta da maioria.
* Se não vinga a aprovação do novo PDM, quem não se vai calar são os investidores lobbistas que apostaram tudo na compra de centenas de hectares de REN existente no Concelho (quase 460 hectares, isto é, 460 vezes 10 mil m2), em negócios de compra a tostão para venda posterior a milhão, sob a proposta “muito interessante” de que essa terra deixaria de ser REN no novo PDM, com passes de mágica e tambores a rufar pelo crescimento exponencial da REN na Moita sim, mas noutros lugares. E com a garantia que “comprassem, comprassem”, que o novo Solo Urbano a granel estava na calha, “nós aprovamos isso no espaço de 2 meses de estio, ou pouco mais”, terá sido a promessa nos anos das vésperas de 2005. E com investidores defraudados e muito dinheiro em risco de ser totalmente deitado a perder, não sei, não sei, a tranquilidade e o futuro risonho de muita gente boa também não estarão lá muito garantidos, ai isso não.

Chama-se a isto estar o imbróglio espetado em cheio nos chifres de um dilema:
Preso por ter cão;
Enjaulado por o não ter!

E como poderá este nó ser desatado?
Com jeitinho?
À espadeirada?
Com rezas e benzeduras?
No estádio a que as coisas chegaram, nenhuma solução será fácil.
As coisas já não são hoje o que dantes eram.
As pessoas sabem hoje muito mais deste assunto do que alguma vez antes se poderia ter imaginado. A Revisão de 2005/2006 trazida para o meio do povo às escâncaras não tem nada ver com o processo de 1992/1993, feito à sorrelfa e nas costas dos desatentos interessados de então.
Entidades da Administração a níveis regional e central, órgãos de comunicação social, partidos políticos, Órgãos de Soberania, todos têm sido, e continuarão a ser seguramente avisadas passo a passo, com todo o detalhe, dos mais pequeninos meandros de toda a jigajoga desta interessante problemática em discussão.
A luz e a transparência são cada vez mais inimigas da conspiração e da trapaça.

A democracia que temos é formal e afoga-se todos os dias em numerosas farsas e iniquidades, mas é democracia mesmo assim e tem poderes e contra poderes, e poderes independentes mesmo, que na altura própria terão seguramente palavras importantes a pronunciar.
A ver vamos se ganha a trapaça. Se vence a decência.
Por isso,
* É sensato contestar-se quem disser que o Novo PDM não passará, deve pedir-se a quem assim falar que use de cautela e moderação, não vá o demo tecê-las e o maldito vingar;
* Mas é igualmente avisado contrariar-se quem disser que o Novo PDM já cá canta, deve avisar-se quem assim falar que por enquanto as favas não são contadas, e às vezes quando o são, baralhação e erros de cálculo também os pode haver.

Ah!, quase esquecia:
Uma questão final, não devo esquecer:
* A batalha em torno do PDM da Moita e da sua desgraçada Proposta de Revisão de 2005 deixou para muitos há bastante tempo de ser apenas um problema de mais ou menos solo urbano, de mais ou menos REN aqui ou acolá, de mais ou menos casario e betão em crescimento louco e desenfreado por todo o lado.
* É isso, e ao sê-lo, é de facto assunto muito importante para esta nossa terra e esta nossa vida em sociedade. Mas não é só isso.
* Para mim, e seguramente para muitos outros de nós também, é igualmente e sobretudo é antes do mais uma questão de transparência, de legalidade, de exercício de cidadania, de destrinçarmos afinal a vera da falsa democracia.

E também aí, sobretudo aí, deverá ser uma batalha que não pode ser perdida, ou se o vier provisoriamente algum dia a ser, que seja pelo menos uma luta que não há-de ser escusada.

Meu Caro AV2,
Por tudo o que lhe escrevo, Você pode advogar como entretém essa história da “acção directa”, fica-lhe bem como desabafo, como descompressão.
Vale o que vale, parece-me que em si será não mais que um mero escape.
Mas por favor não desista do que é realmente importante, não deixe nunca de resistir a este novo PDM, nem defenda que “essa treta toda … já se sabe que vai dar sempre ao mesmo”.
Porque em boa verdade, não se sabe ainda.
Pode ser que sim.
Pode ser bem que não.

Um abraço.
Conservador,
16 Julho 2

2 comentários:

AV disse...

Tem razão Conservador, por isso é que o AVP é um espaço plural onde podemos discordar. Eu com os meus interesses e o Conservador e o AV1 com as suas prioridades relativas ao PDM.

AV2

AV disse...

mas acrescento que a interrupção que fizeram na vossa luta, talvez proporcionada por promessas deste edil camârario, não foi porventura uma boa actuação dos M&P, porque não se pode nunca descurar a luta, também os outros factores que aventamos como lutas imediatas e incisivas, como por exemplo a remoção do desmantelamento do caís novo, não mereceram de vós uma palavra de solidariedade.
Acho a luta dos M&P, importante e há mais ou menos um ano atrás frisei bem a minha solidariedade.
As estratégias de luta contra o poder moiteiro têm de ser encetadas como um todo e não como lutas individuais, por muito que estejam certas.

Um abraço do AV2